Tendências na Origem Archives - PDG Brasil https://perfectdailygrind.com/pt/category/tendencias-na-origem/ Revista digital sobre café, da fazenda à xícara Sat, 04 Mar 2023 20:01:35 +0000 pt-BR hourly 1 https://perfectdailygrind.com/pt/wp-content/uploads/sites/5/2020/02/cropped-pdgbr-icon-32x32.png Tendências na Origem Archives - PDG Brasil https://perfectdailygrind.com/pt/category/tendencias-na-origem/ 32 32 É possível conseguir café de boa qualidade a partir de cerejas verdes? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/02/17/qualidade-cerejas-verdes/ Fri, 17 Feb 2023 11:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12320 Cultivar café de alta qualidade não é fácil porque requer muita dedicação do produtor. Além disso, há um grande número de variáveis que influenciam a qualidade da xícara do produto final como a presença de grãos verdes ou outros defeitos. É aceito em toda a indústria que as cerejas totalmente maduras produzem cafés com maior pontuação. Mas […]

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Cultivar café de alta qualidade não é fácil porque requer muita dedicação do produtor. Além disso, há um grande número de variáveis que influenciam a qualidade da xícara do produto final como a presença de grãos verdes ou outros defeitos.

É aceito em toda a indústria que as cerejas totalmente maduras produzem cafés com maior pontuação. Mas e se pudéssemos extrair mais qualidade do café verde? O que isso significaria para os consumidores? Como seria o gosto?

Para saber mais, conversei com as partes interessadas de toda a cadeia de fornecimento de café. Continue a ler para descobrir o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como os microrganismos afetam a fermentação.

cerejas verdes

Amadurecimento de cereja e qualidade da xícara

Lucas Venturim é um premiado produtor de café especial e diretor da Fazenda Venturim no Espírito Santo, Brasil. A Fazenda Venturim cultiva robusta de alta qualidade ou “fina”, cultivada e processada com alto padrão para criar perfis de sabor desejáveis.

No entanto, Lucas diz que, independentemente da espécie, as cerejas não maduras produzem perfis de xícara que não são tão doces e complexos. 

“Quando a fruta ainda não está totalmente madura, ela não desenvolveu todos os açúcares potenciais”, explica. “Porque não converteu toda a sua energia em açúcares, os aromas e sabores não atingem todo o seu potencial.”

Apesar disso, nem sempre é fácil para os produtores colher cada cereja na maturação ideal. 

“Nunca conseguimos colher todos os frutos no ponto de maturação ideal”, diz ele. “Em vez disso, você tem uma janela, que chamamos de ‘janela de colheita’.

“Mesmo que você dedique 100% do seu tempo para colher todas as cerejas no ponto certo, na melhor das hipóteses, algumas frutas ainda serão colhidas antes ou depois do ponto perfeito.”

O professor Flávio Borém leciona na Universidade Federal de Lavras (UFLA) em Minas Gerais, há quase 25 anos. Ele é respeitado nacional e internacionalmente como uma autoridade na ciência do café. “A qualidade final da xícara está diretamente relacionada à proporção de frutas maduras e verdes no momento da colheita”, diz ele.

“Quanto maior a porcentagem de frutas não maduras, maior a adstringência; a presença de sabores desagradáveis (como notas herbáceas e de amendoim) também aumenta”, acrescenta Borém.

Professor Flávio Borém em meio a pés de café

Benefícios do consumo de café para a saúde

Não há dúvida de que a procura de produtos alimentares e bebidas de melhor qualidade por parte dos consumidores aumentou nos últimos anos. Um relatório da YouGov America aponta que 80% dos millennials nos EUA afirmam que a qualidade é um fator-chave na compra de alimentos e bebidas.

E embora essa mudança possa ser atribuída a vários fatores, a saúde e o bem-estar estão no topo da lista. De acordo com a Mintel, 78% dos consumidores dos EUA acreditam que comer alimentos saudáveis melhora seu bem-estar emocional.

No entanto, essa tendência não se limita apenas aos EUA; ela está se tornando cada vez mais proeminente em todo o mundo. Isao Takahashi é o Gerente Geral do Departamento de CM da Divisão de Compras Brutas da UNICAFE Inc., uma torrefadora de café japonesa.

Ele diz: “As doenças relacionadas ao estilo de vida, como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes, estão profundamente relacionadas às causas de morte entre os japoneses, e acreditamos que a prevenção delas é um tema muito significativo para a crescente população de idosos no país.” 

Isao também observa que o café é considerado saudável. “Estudos mostraram que beber café está associado à prevenção dessas doenças relacionadas ao estilo de vida”, acrescenta. “Temos, portanto, nos concentrado no papel dos polifenóis contidos no café.” 

O professor Borém concorda: “Os efeitos benéficos para a saúde do café são geralmente atribuídos à sua alta atividade antioxidante, que está principalmente associada aos seus altos níveis de polifenóis.” 

Um exemplo desses polifenóis é o ácido clorogênico, que ocorre naturalmente no café. Em níveis elevados, o ácido clorogênico causa sabores indesejáveis e altamente adstringentes na xícara. No entanto, também tem sido associada a uma série de benefícios notáveis para a saúde. 

Em primeiro lugar, o ácido clorogênico é um antioxidante que atua interrompendo a produção de radicais livres. Isso traz uma série de benefícios como a prevenção de doenças crônicas como artrite, doenças cardíacas e Alzheimer. Além disso, o ácido clorogênico também é um anti-inflamatório natural e demonstrou inibir o vírus da hepatite B.

Ramo com algumas cerejas verdes de café

E as cerejas verdes?

Apesar dos sabores desagradáveis que as cerejas de café não maduras normalmente produzem, elas são seguras para consumo e ainda mais saudáveis do que as cerejas maduras em algumas áreas.

O professor Borém diz: “Embora os grãos de cerejas imaturas tenham sido classificados como defeituosos há décadas, eles são saudáveis e não representam nenhum dano à saúde. 

“Isso difere dos grãos danificados por pragas ou doenças, que podem ter menor qualidade da xícara e também representam riscos à saúde do consumidor.” Além disso, ele acrescenta: “Grãos de café de frutas imaturas têm uma quantidade maior de compostos antioxidantes ativos do que aqueles de frutas maduras.”

Grãos de café descascados secando no terreiro

Um projeto de café nutracêutico de ponta

Matthias Koenig é o Chefe da Agri Value Chain Specialties Businesses na Syngenta, uma empresa líder mundial em fornecimento agrícola. Nucoffee é uma plataforma de café operada no Brasil pelo grupo Syngenta.

Matthias explica que, juntamente com as partes interessadas de todo o setor, a Nucoffee lançou um estudo para explorar o potencial de cerejas de café não maduras.

Ele diz: “A ideia sempre se concentrou na conexão entre os produtores de café brasileiros e os compradores internacionais, com vistas a melhorar a cadeia de valor, adicionar transparência e apoiar o desenvolvimento da qualidade e da sustentabilidade nas fazendas.”

Isao acrescenta: “Como o ácido clorogênico tende a diminuir durante a torrefação, nos perguntamos se era possível produzir grãos de café verde que sejam ricos em ácido clorogênico em países produtores de café como o Brasil, que era nosso foco na época.” 

Após cinco anos de pesquisa, Matthias diz que o estudo desenvolveu uma técnica pós-colheita experimental única que pode melhorar a qualidade e a complexidade dos grãos colhidos de cerejas de café não maduras. O projeto em si foi uma ideia do professor Borém, ao desenvolver a tecnologia que constitui a base da técnica.

A Syngenta investiu neste projeto não apenas para agregar valor e qualidade ao produto final, mas também para apoiar os agricultores. Geralmente, há apenas uma janela curta quando as cerejas de café podem ser colhidas no seu estado mais maduro, e ter coletores patrulhando repetidamente as mesmas áreas não é viável ou rentável.

A ideia por trás do projeto é simples. Grãos de café verdes são naturalmente mais adstringentes, mas também mais altos em antioxidantes. Ao usar esta inovação tecnológica única para neutralizar a adstringência e criar um perfil de xícara mais desejável, você pode usar cerejas verdes para produzir um café que é mais comercializável para consumidores preocupados com a saúde.

Mão com cerejas bem maduras e grãos de café

Colhendo bons resultados a partir das cerejas verdes

Inicialmente, usou-se o método com uma proporção de 70% de cerejas maduras a 30% de cerejas não maduras, e a partir de então se fez um refinamento. Usando esta tecnologia original, conseguiu-se bons resultados com um lote cheio de cerejas de café 100% verdes.

O professor Borém diz: “A tecnologia pós-colheita desenvolvida na UFLA e licenciada para a Syngenta Nucoffee conseguiu elevar em até cinco pontos a pontuação da xícara do café tratado.

“Estudos mostraram que isso torna a xícara mais doce, ligeiramente ácida e dá sabores mais complexos, muitas vezes de frutas ou especiarias.”

Lucas Venturim, que contribuiu para a pesquisa realizando experimentos em sua fazenda, diz que ficou surpreso com os resultados. “Alcançamos uma melhoria excepcional na qualidade”, ele me diz.

“No primeiro experimento, usamos um café não tratado como um grupo de controle e ele marcou 78 pontos. O café tratado, no entanto, marcou em torno de 85 a 86. É um aumento incrível. 

“Mas o que é realmente interessante é que gerou um perfil sensorial totalmente diferente de tudo o que já tivemos na fazenda”, acrescenta.

Matthias diz: “Já se conhece a alta atividade antioxidante das cerejas de café não maduras há algum tempo, mas a capacidade de gerenciar o perfil sensorial desses cafés é única.”

Finalmente, Isao acrescenta: “Enquanto ainda estamos no processo de considerar cuidadosamente a superioridade dos altos níveis de ácido clorogênico, a qualidade do  café nutracêutico era alta por causa da acidez distinta, brilhante, doçura, sabor limpo e acabamento agradável, o que nos lembrou completamente da qualidade do café especial.”

barista servindo café

O que isso pode significar para a cadeia de suprimentos?

Do ponto de vista de um produtor, Lucas diz que esse método tem grande utilidade, pois é praticamente impossível colher cada cereja em seu ponto mais maduro. 

Ele diz: “A ideia não é encorajar todos a colher cerejas verdes com esse processo, mas sim aproveitar a proporção inevitável de cerejas verdes e, portanto, obter mais lucro com elas.

“Então, se a renda média da fazenda melhorar, ela estará mais bem equipada para fazer investimentos e remunerar quem trabalha nela. Acredito ser revolucionário porque se parte produto que até então estava subvalorizado no mercado. Aí então se percebe que dá para transformá-lo em algo novo, que pode atingir um valor realmente alto.”

E a evidência está lá, de acordo com Matthias. Ele diz: “Observamos a reação de potenciais compradores e outros participantes da cadeia de valor, e o feedback foi muito emocionante. 

“Existem várias maneiras de aplicar essa técnica e usá-la para tornar o café mais saudável e sustentável, além de criar segmentos de mercado para o café brasileiro”, explica.

Isao acrescenta: “Esta é realmente uma inovação. O valor do café aumentará e, se as cerejas de café não maduras puderem aumentar de valor. Com isso, esperamos muitos efeitos positivos. Incluindo aí melhores condições de vida para os produtores, mais motivação para cultivar café e melhoria contínua da qualidade.”

O professor Borém diz que considera a pesquisa inovadora. “Considero o aspecto mais importante desta pesquisa o desafio de um velho paradigma que a maioria das pessoas não acreditava ser possível.  “Agora é possível explorar os benefícios para a saúde e a qualidade do café ao mesmo tempo”, conclui.

Em todo o setor cafeeiro, os produtores enfrentam muitos desafios para manter a rentabilidade. Uma delas é a questão do que fazer com as cerejas verdes, pois, historicamente, toda cereja verde colhida representa perda de renda potencial.

No entanto, um mundo onde as cerejas de café não maduras poderiam produzir café de melhor qualidade e mais comercializável poderia ser muito mais sustentável para o produtor. Assim como benéfico para outros em toda a cadeia de suprimentos.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre a natureza vs nutrir e o que tem o maior efeito sobre a qualidade do café.

Créditos das fotos: Fazenda Venturim, Fazenda Canto Alegre e Sítio Santa Edwiges

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

Observação: a Nucoffee é patrocinadora do Perfect Daily Grind.

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Por que o marketing no setor do café é pouco explorado por produtores? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/02/13/produtores-e-o-marketing-no-setor-do-cafe/ Mon, 13 Feb 2023 11:04:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12298 O café é uma das commodities agrícolas mais economicamente importantes no mundo. De acordo com dados da Organização Internacional do Café (OIC), entre 2020 e 2021 foram  consumidos cerca de 167,58 milhões de sacos de  60 kg. Sabemos que a maior parte do valor no mercado global de café é gerado depois que o café […]

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O café é uma das commodities agrícolas mais economicamente importantes no mundo. De acordo com dados da Organização Internacional do Café (OIC), entre 2020 e 2021 foram  consumidos cerca de 167,58 milhões de sacos de  60 kg.

Sabemos que a maior parte do valor no mercado global de café é gerado depois que o café sai da origem. Os números da Statista preveem que a receita gerada pelo mercado global de café torrado chegará a cerca de USD 334,60 bilhões até o final deste ano.

Grande parte desse valor, em particular, é gerado pela torrefação, etapa após a qual o café vendido aos consumidores finais. E embora existam alguns torrefadores nos países de origem, a maioria está baseada em países consumidores no Norte Global é aqui que ocorre grande parte desse movimento de mercado.

Por que isso acontece? Para saber mais, conversei com quatro profissionais de café. Continue a ler para descobrir o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como os produtores podem definir perfis sensoriais para seus cafés.

detalhe de placa promocional de uma torrefação de café

Uma breve história do marketing no setor cafeeiro

Embora existam cerca de 25 milhões de pequenos produtores de café no mundo, os agricultores muitas vezes não comercializam seu próprio café. Há uma série de razões para isso, muitas das quais são complexas.

Ao longo dos anos 1600 e 1700, as potências coloniais europeias estabeleceram o comércio de café como o conhecemos. Parte disso, de uma forma muito mais rudimentar naquela época, era marketing. Acredita-se que o primeiro anúncio impresso de café tenha sido publicado em 1652 por Pasqua Rosée, uma das primeiras cafeterias em Londres.

Essa tendência de comercializar café nos países consumidores majoritários continuou ao longo dos séculos seguintes. Durante os anos 1700 e 1800, o café era comercializado como um produto “exótico” que apenas os ricos podiam pagar.

No início do século XX, no entanto, para melhorar as vendas de café torrado, as empresas do setor começaram a mudar seu foco de marketing para atender à demanda. O café tornou-se mais acessível para as massas.

A partir de então, em muitos dos principais países consumidores (notadamente os EUA e toda a Europa Ocidental), o marketing do café evoluiu para continuar seu foco no consumidor. Como tal, ainda hoje, muitos apenas assumem que, por padrão, o marketing B2C é de responsabilidade de torrefadores e cafeterias.

Pacote e grãos de café torrado sobre uma mesa

Por que o marketing permaneceu na maioria dos países consumidores?

Não é exagero dizer que grande parte do marketing na indústria do café vem de torrefações e cafeterias, pois essas empresas estão muito mais próximas do consumidor (mesmo que sejam B2B, em alguns casos).

Norbert Niederhauser é cofundador e CEO da Cropster. Ele explica porque o marketing na indústria do café é em grande parte responsabilidade dos torrefadores.

“Os torrefadores comercializam café porque têm a última conexão com (ou são os mais próximos) do consumidor final”, diz ele. “Muitos torrefadores também possuem cafeterias, então eles têm uma linha direta de conexão com os clientes.”

Como resultado disso, as empresas de café em países consumidores da maioria retêm a maior parte da experiência em marketing. Além disso, muitas indústrias de marketing e mídia estão em grande parte centradas no Norte Global, incluindo a Europa e os EUA.

Em 2021, o gasto combinado com publicidade da Europa e da América do Norte foi superior a US$ 440 bilhões, enquanto os países da América Latina gastaram coletivamente USD 27 bilhões em publicidade durante o mesmo período.

O negócio de torrar e vender café também é inerentemente mais lucrativo do que cultivar e vender café verde, por uma série de razões. Vale ressaltar também que o segmento de torrefação de café é muito mais competitivo do que muitas outras áreas da cadeia de suprimentos, seja B2B ou B2C. Como tal, os torrefadores têm sido cada vez mais pressionados a usar a marca e o marketing para se destacarem nos últimos anos.

O dilema dos produtores quanto à venda internacional de cafés já torrados

Segundo Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café, os produtores vendem café cru, mas não o produto final. “Embora o Brasil venda café verde, não é possível vender o produto final a menos que se trabalhe com outros parceiros, incluindo torrefadores”, diz.

Ela atuou anteriormente como diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e explica como o órgão atua: “A BSCA promove o comércio e o consumo de café brasileiro especial, e o faz em colaboração com aqueles que vendem o produto final aos consumidores”.

Os fazendeiros de café vendem café verde principalmente para comerciantes, torrefadores e outros compradores profissionais. Como o público é diversificado e muito B2B, os produtores tiveram que usar marketing diferente.

Além disso, as indústrias de marketing em muitos países produtores de café ainda são relativamente jovens em comparação com os países consumidores majoritários, em que esse setor tem uma história muito mais longa.

As regiões produtoras e o marketing no setor do café

Isso é especialmente verdadeiro para a produção de café, que tinha pouca presença de marketing antes de meados do século XX. Além disso, como a cafeicultura fornece uma renda de subsistência para muitos, a oportunidade de investir em marketing muitas vezes não é viável.

Mesmo que os produtores recebam uma grande soma de dinheiro, é provável que o foco de um investimento maior esteja em sua infraestrutura agrícola e não em suas técnicas de marketing. No mais, a maioria dos produtores vive em regiões remotas e isso dificulta o acesso direto aos mercados de consumo.

No entanto, embora a maior parte da oferta global de café viaje longas distâncias para ser torrada na maioria dos países consumidores, a torrefação na origem é uma tendência crescente. Operações como Chica Bean na Guatemala e Big Island Coffee Roasters no Havaí podem torrar café na origem e enviá-lo internacionalmente, mantendo assim mais do valor do café em suas regiões de origem.

Trabalhadora selecionando grãos de café em terreiro suspenso

Como os produtores podem aumentar seu marketing?

Uma das maiores críticas da indústria global do café é que o valor é tradicionalmente adicionado uma vez que o café deixa o país produtor. Isto significa, em grande medida, que os agricultores recebem, em geral,  proporções menores do preço final do que outras partes interessadas. No entanto, existem maneiras para os cafeicultores agregarem mais valor na origem e aumentarem o preço que recebem por sua cultura.

Como mencionamos, a torrefação do café na origem é uma das muitas maneiras pelas quais mais valor pode ser alcançado nos países produtores, potencialmente ajudando os agricultores a receber preços mais altos.

Sunalini Menon é presidente da Coffeelab Limited e diretora independente no conselho da Tata Coffee, a maior empresa de café integrado da Ásia. “A maioria dos torrefadores são baseados em países consumidores de café”, diz ela.

Tradicionalmente, isso ocorre porque o café torrado é um produto instável, o que significa que ele pode perder rapidamente seu sabor. O café verde é geralmente transportado em navios de carga por semanas até chegar ao destino. Se o café torrado fosse enviado da mesma forma, chegaria ao consumidor final já bastante deteriorado em suas características.

Um novo trunfo: os métodos experimentais de processamento

Além da torrefação na origem, as inovações nas técnicas experimentais de processamento do café têm imenso potencial para os produtores comercializarem cafés mais exclusivos. Isso é especialmente proeminente nos mercados B2B, já que os torrefadores de menor escala geralmente têm mais interesse em cafés exclusivos e mais raros do que as empresas maiores

Em muitos casos, os produtores também estão aproveitando as mídias sociais e o marketing digital para promover esses cafés processados experimentalmente.

Wilford Lamastus é o produtor-chefe da Lamastus Family Estates em Boquete, Panamá. Ele diz: “Na Lamastus, realizamos vários métodos de processamento experimental, o mais recente dos quais é o processamento anaeróbio de secagem lenta em leitos elevados. Os torrefadores preferem ter opções diferentes, então oferecemos café Gesha processado de maneiras diferentes.”

No entanto, é de salientar que nem todos os pequenos agricultores têm capacidade para executar estas técnicas experimentais de processamento. Sem formação e investimento adequado em infraestrutura, o risco de perdas financeiras é muito maior. Além disso, não há garantia de que exista um mercado para esses cafés, e muitas vezes é caro produzi-los de qualquer maneira.

trabalhador de armazém sobre sacas de café

Desafios e oportunidades para agregar valor

Vanusia destaca que a capacidade de replicar perfis de sabor consistentes é essencial para os agricultores que procuram comercializar cafés únicos ou experimentais em particular.

“Existem oportunidades para esses casos, pois os consumidores estão curiosos para experimentá-los. Novas técnicas de processamento podem apoiar estratégias de branding para o produtor e sua fazenda. No entanto, os produtores devem ser capazes de replicar os perfis únicos desses cafés processados experimentalmente”, ela diz.

Norbert acrescenta como a tecnologia mais avançada está ajudando os produtores a entender melhor como controlar a fermentação, criando um produto de melhor qualidade.

“Agora, mais do que nunca, os profissionais de café são capazes de entender melhor como controlar as variáveis envolvidas no processamento do café.”

Entendendo a cabeça do consumidor

No entanto, Sunalini destaca como os produtores devem tomar muito cuidado ao tentar realizar métodos de processamento experimental, especialmente se eles normalmente usam técnicas mais tradicionais.

“Há muitas oportunidades de marketing, mas os agricultores devem entender este mercado e descobrir o que os consumidores querem primeiro. Se os produtores puderem realizar essas técnicas experimentais com sucesso e encontrar o mercado certo, será uma situação vantajosa para eles e para toda a indústria do café”, diz ela.

Além das técnicas de processamento experimental, também podemos considerar a torrefação na origem. No entanto, se os cafeicultores quiserem começar a torrar e transportar internacionalmente, será necessário investir no estabelecimento de redes de distribuição eficientes.

O desenvolvimento dessas redes é indispensável por proporcionar uma redução no prazo de envio. Isso permite a concorrência com as torrefações estabelecidas nos países consumidores.

No entanto, ele também pode ser difícil para os pequenos agricultores. Justamente por isso eles podem optar por não entrar nesses mercados internacionais e passar a atender estritamente aos mercados domésticos.

“Torramos café no Panamá para consumo doméstico porque temos uma cafeteria em uma de nossas fazendas”, diz Wilford. “Temos torrado café há dez anos, mas não o exportamos. Não queremos competir com torrefadores internacionais.”

Compartimento de resfriamento de grãos torrados de um equipamento de torrefação em funcionamento

Grandes mudanças na indústria do café

Embora ainda não seja uma prática generalizada, cada vez mais torrefadores estão começando a operar na origem com vista a atender aos consumidores internacionais. No entanto, para os torrefadores nos países produtores de café, a torrefação para o mercado interno é geralmente a opção mais prática.

“Há torrefadores na Índia e a maioria deles atende ao mercado doméstico”, diz Sunalini. “Os torrefadores indianos entendem as demandas e preferências dos consumidores locais, e o grão verde está prontamente disponível no país.”

Norbert explica: “Os produtores podem torrar café ou usar  torrefadores de marca própria local para vender no mercado doméstico.”

Exportar café torrado internacionalmente é possível, mas é difícil, especialmente quando manter o frescor é uma preocupação. Os torrefadores, como o Chica Bean, por exemplo, entregam café torrado por via aérea, em oposição ao transporte de carga. No entanto, quaisquer atrasos podem colocar esses torrefadores em desvantagem em comparação com os torrefadores nos países consumidores.

Surfando na terceira onda dos cafés especiais

Em última análise, mais do que recorrer à torrefação na origem ou experimentar métodos de transformação, as mudanças estruturais são mais importantes se quisermos garantir que os agricultores recebam preços mais elevados.

A cultura do café da terceira onda tem um foco proeminente na sustentabilidade e transparência na cadeia de fornecimento de café. Isso inclui um interesse crescente dos consumidores em se tornarem mais conscientes de quanto os agricultores são pagos, bem como pressionar por mais equidade financeira.

Para os profissionais de café que conseguem fazê-lo, educar os consumidores em toda a cadeia de fornecimento de café é a maneira mais significativa de apoiar os produtores. No que lhe concerne, os consumidores têm a oportunidade de se tornarem mais informados e conscientes de toda a cadeia de abastecimento – especialmente no que diz respeito à produção.

O marketing é uma parte essencial da indústria do café. E embora pareça que o cenário está preparado para que grande parte dele permaneça com empresas voltadas para o consumidor, também há um potencial crescente para que ele aumente no final da produção da cadeia de suprimentos.

Embora haja uma série de desafios e limitações, as oportunidades para os agricultores comercializarem seus cafés estão se tornando mais acessíveis. Para outras partes interessadas em toda a cadeia de suprimentos, a melhor coisa a fazer é simplesmente fornecer suporte sempre que possível – e representar os agricultores de maneira justa, autêntica e transparente.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre a história do marketing no setor de café.

Créditos das fotos: Lamastus Family Estates

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Explorando a produção do café na Sicília https://perfectdailygrind.com/pt/2023/02/08/explorando-producao-de-cafe-na-sicilia/ Wed, 08 Feb 2023 11:01:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12256 No verão de 2021 houve a primeira colheita de um café cultivado na Sicília, ao sul da Itália. A safra de 30 kg de cerejas foi cultivada por Arturo Morettino e seu filho Andrea, da torrefação Morettino Coffee . Foi durante uma viagem à Guatemala para comprar café verde para a sua empresa que Arturo […]

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No verão de 2021 houve a primeira colheita de um café cultivado na Sicília, ao sul da Itália. A safra de 30 kg de cerejas foi cultivada por Arturo Morettino e seu filho Andrea, da torrefação Morettino Coffee .

Foi durante uma viagem à Guatemala para comprar café verde para a sua empresa que Arturo se inspirou para começar sua plantação. O Jardim Botânico de Palermo, capital da Sicília, forneceu as primeiras sementes para o projeto: uma variedade de origem etíope. Estas sementes foram então plantadas no vilarejo de San Lorenzo ai Colli.

Depois de diversos testes e muita perseverança, o projeto dos Morettinos finalmente resultou em sua primeira colheita considerável há um ano. Mas isso é significativo para a indústria do café em geral? Para saber mais sobre o café na Sicília, conversei com Andrea Morettino e com o Dr. Christophe Montagnon.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre as origens emergentes do café especial para acompanhar.

Frutos do cafeeiro em diferentes pontos de maturação na planta

Como é cultivado o café na Sicília?

A Sicília é a maior ilha do Mar Mediterrâneo, com um clima mediterrâneo típico de invernos amenos e úmidos, além de verões quentes e secos. A proximidade da ilha com a África pode resultar em temperaturas mais altas do que na maior parte da Itália, tornando-a mais adequada para o cultivo de café.

A torrefação Morettino está localizada na cidade de Palermo, no noroeste da Sicília. A cidade fica a cerca de 15 graus mais ao norte do Trópico de Câncer. Esta latitude é importante para notar como a maioria do café é cultivada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, 23,5 graus acima e abaixo do equador. Esta área é comumente conhecida como Cinturão do Grão, que inclui principalmente países da África, América Central e do Sul e Ásia-Pacífico.

Andrea é Chefe de Vendas e Marketing da Morettino Coffee, que foi fundada por seu bisavô em 1920. Ele explica que as sementes foram plantadas a cerca de 350 metros acima do nível do mar, ao ar livre.

“As sementes foram capazes de se adaptar ao clima siciliano nas latitudes mais ao norte”, diz ele. “Mas, ao longo dos anos, algumas plantas não sobreviveram ou não produziram muitas cerejas.” Embora seja bastante incomum, a produção de café em pequena escala é possível fora do Cinturão do Grão. Veja alguns exemplos:

Europa

A Mais de 3.500 km a oeste de Palermo está localizada uma pequena fazenda de café em SãoJorge, nos Açores (uma região autônoma de Portugal). Os Açores têm um clima subtropical, o que permitiu que a fazenda cultivasse cerca de 800 plantas de café.

A fazenda SãoJorge foi fundada há cerca de 40 anos e cultiva café exclusivamente para consumo local. Nas Ilhas Canárias, ao largo da costa noroeste de África, também há o cultivo de pequenas quantidades de café, particularmente no Vale do Agaete e em Gran Canaria.

Estados Unidos

O estado do Havaí produz cerca de 2,3 milhões de kg de café verde todos os anos, mas o café também foi cultivado em outros lugares nos EUA.

Na Califórnia, após vários testes de pesquisa, pés de café arábica foram plantados em altitudes de até 180m acima do nível do mar. Atualmente, mais de 70 propriedades estão cultivando e vendendo café para consumo local.

Cientistas da Universidade da Flórida estão cultivando plantas de café na Plant Science Research and Education Unit. Os cafeeiros são cultivados sob condições controladas, antes de serem consorciados com árvores de frutas cítricas.

Austrália

Embora o café esteja presente na Austrália desde 1800, seu cultivo só se deu em uma escala muito pequena desde o final da década de 1980. A maior parte da produção de café do país está na cidade costeira de Byron Bay e na cidade rural de Atherton Tablelands.

Existem cerca de 50 fazendas de café na Austrália cultivando mais de meio milhão de árvores, principalmente variedades Catuaí e K7. Aqui, o café pode ser cultivado com sucesso a partir de altitudes de 15 a 900m acima do nível do mar.

Flores de café

A primeira colheita de café siciliano

Andrea afirma que o projeto de café Morettino foi “uma visão ambiciosa a médio prazo”. Ele explica que as primeiras cerejas verdes apareceram em meados de dezembro. Segundo ele, a colheita em pequena escala é possível durante a primavera, mas a maior parte dela  ocorre entre junho e setembro.

A família Morettino escolheu a dedo as cerejas maduras e depois as processou usando o método honey. Isso incluiu um estágio inicial de fermentação lavada de 48 horas, antes de deixar as cerejas secarem. O café foi então torrado em um perfil de leve a médio.

“Tinha um sabor muito refinado, com acidez equilibrada e doçura natural”, diz Andrea. “Estamos muito orgulhosos disso.”

Ele acrescenta que o terroir exclusivo da Sicília ajuda a dar ao café sabores distintos. “As notas de degustação incluíam uvas Zibibbo (uma antiga variedade de uvas Moscato), alfarroba e flores de plumeria brancas e doces, nativas da Sicília.”

No entanto, ele observa que o projeto ainda está em seus primeiros dias, então uma produção substancial pode levar algum tempo. “Levará pelo menos uma década até que nossa fazenda possa produzir mais café.”

Andrea e Arturo Morettino em meio à plantação de café

O café siciliano será mais cultivado?

Naturalmente, o sucesso do projeto dos Morettinos levanta questões sobre o cultivo de café em outros lugares em toda a ilha, bem como em outras regiões mediterrâneas. Andrea atribui o “potencial inesperado” do cultivo de café na Sicília à produção de outras plantas tropicais na ilha, como manga, mamão, abacate, kiwi e lichia siciliana.

“A Sicília tem milhares de propriedades e estufas abandonadas que podem ser restauradas e convertidas para a produção de café”, diz ele, indicando o potencial. No entanto, ele acrescenta que isso só será possível se as gerações mais jovens da Sicília mostrarem mais interesse em fazendas de café.

Christophe Montagnon é o CEO da RD2 Vision: uma consultoria de pesquisa e desenvolvimento agronômico focada em café. Ele me diz que o café siciliano é “simbólico” para a indústria, mas esta colheita inicial será vista mais como uma “curiosidade”. Ao menos até que a produção possa ser dimensionada e replicada.

Ao perguntar a Christophe se a introdução de novas espécies de café poderia ser prejudicial para as espécies de plantas nativas existentes na Sicília, ele disse que os resultados poderiam ser positivos. “Teoricamente, não há impacto”, ele me diz.

Cristophe ainda acrescenta: “As árvores de café podem hospedar uma bactéria bem conhecida (Xylella fastidiosa) em algumas regiões do mundo, o que também afeta as oliveiras. Mas se as sementes importadas estiverem adequadamente em quarentena, não deve haver problemas.”

Cerejas de café bem maduras

Considerando os impactos das mudanças climáticas

A produção de café depende de condições de crescimento consistentes e ideais, como luz solar abundante e temperaturas estáveis. Para os países de origem ao longo do Cinturão do Grão, quaisquer mudanças significativas nos fatores ambientais, como aumento da temperatura ou aumento da precipitação, podem ser prejudiciais.

Isso se deve principalmente ao fato de os agricultores terem que “subir mais alto” para cultivar café com sucesso em temperaturas mais frias. Além disso, países menos desenvolvidos economicamente (que inclui a maioria das regiões cafeeiras) são mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas.

No entanto, verificou-se que o impacto do aumento das temperaturas globais beneficia a produção de café em zonas mais distante do Equador. Geralmente, se sentem as mudanças climáticas em menor grau nessas regiões do que ao longo do Cinturão do Grão.

Nesse sentido, Andrea diz como o tempo mudou na Sicília. “No ano passado, houve ondas de calor incríveis, com temperaturas recordes que atingiram cerca de 48ºC perto de Siracusa”.

“Também houve intensas tempestades tropicais, chuvas torrenciais e tornados. Nos últimos, estamos experimentando uma mudança nas estações, bem como uma dupla floração em plantas e árvores ao longo do ano”, ele acrescenta.

As mudanças climáticas e sua relação com o café siciliano

Christophe ressalta que é difícil afirmar se a mudança climática é o único contribuinte para a produção de café da Sicília. “No entanto, o cultivo de café na Sicília pode se tornar mais adequado com as mudanças climáticas.”

Plantar café mais longe do equador pode eventualmente se tornar uma realidade para a indústria do café do futuro. Um estudo de janeiro de 2022 do Potsdam Institute for Climate Impact Research descobriu que, em 2050, as áreas para o cultivo de café no Brasil, Vietnã, Colômbia e Indonésia devem diminuir.

“Como o clima está mudando globalmente, os esforços para criar mais variedades de café inteligentes em relação ao clima podem beneficiar regiões como a Sicília”, diz Christophe. Enquanto isso, Andrea diz: “Precisamos monitorar o sucesso de nosso projeto experimental. Com o tempo, a Sicília pode vir a se tornar uma região produtora de café.”

Torrador de café trabalhando

O que o futuro reserva?

Embora a produção de café em grande escala na Sicília seja improvável por enquanto, a família Morettino permanece animada e otimista sobre seu potencial.

“É uma conquista enorme que queremos compartilhar com todos os amantes do café”, diz Andrea. “Queremos ampliar nosso ambicioso projeto de cultivo de café na Sicília. Estamos aprendendo mais sobre a cadeia de fornecimento de café e as perspectivas de cultivar mais café em diferentes áreas aqui.”

Andrea explica que a Morettino Coffee trabalha em estreita colaboração com vários centros de pesquisa na Sicília para alcançar esse objetivo. “Colaboramos com o Jardim Botânico de Palermo, a Universidade de Palermo e a Universidade de Catania”, diz ele. “Os diferentes projetos envolvem agricultores e pesquisadores em cafeicultura e fruticultura tropical”.

“A seleção dessas áreas foi feita para potencialmente cultivar café com base no solo, nas condições climáticas e no terroir”, acrescenta. “Monitoraremos de perto o potencial de diferentes espécies e variedades.”

No entanto, a viabilidade comercial é outro fator a considerar. “O cultivo de café na Sicília é lucrativo?” Christophe pergunta. “Dado o salário-mínimo na Europa, você precisaria vender café a um preço alto.” Esta é uma das principais razões pelas quais os preços do café havaiano são mais altos do que outras origens. “É tudo sobre marketing e as crescentes demandas dos consumidores por um nicho de café”, conclui Christophe.

shot de espresso sobre uma mesa, com uma escultura ao fundo.

O sucesso do Morettino Coffee mostra haver algum potencial para uma maior produção de café na Sicília, mas não há dúvida de que levaria um tempo considerável para aumentar os volumes de produção. No entanto, com base nos resultados dos cuppings da fazenda, a qualidade parece ser promissora.

Enquanto constatamos as temperaturas globais médias aumentarem, os países produtores de café tradicionalmente não convencionais que emergem fora do Cinturão do Grão podem se tornar uma visão mais comum.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como repensar o café na Itália, a capital do espresso.

Créditos das fotos: Morettino

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Como a fermentação controlada pode melhorar o sabor e a qualidade do café? https://perfectdailygrind.com/pt/2022/12/05/fermentacao-controlada-pode-melhorar-qualidade/ Mon, 05 Dec 2022 11:02:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11820 Na indústria de café especial, não é exagero dizer que os cafés processados experimentalmente se tornaram cada vez mais populares nos últimos anos. Cada vez mais produtores utilizam métodos novos e inovadores de processamento e a fermentação controlada exerce um papel significativo em muitos deles. No entanto, como com qualquer técnica de processamento de café emergente, os agricultores precisam […]

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Na indústria de café especial, não é exagero dizer que os cafés processados experimentalmente se tornaram cada vez mais populares nos últimos anos. Cada vez mais produtores utilizam métodos novos e inovadores de processamento e a fermentação controlada exerce um papel significativo em muitos deles.

No entanto, como com qualquer técnica de processamento de café emergente, os agricultores precisam tomar muito cuidado ao manipular a fermentação para processar o café. Ao controlar uma série de variáveis, os produtores podem criar sabores maravilhosos em seus cafés e aumentar as pontuações finais da xícara.

Mas como podem os agricultores fazer isso de uma forma que equilibre sucesso e rentabilidade? Para descobrir, conversei com quatro especialistas do setor para entender mais sobre o processo. Continue lendo para obter mais informações sobre fermentação, sabor e a qualidade do café.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como garantir a consistência na fermentação e processamento do café.

Grãos de café em diferentes pontos de maturação secando no terreiro

O que é a fermentação controlada?

Apesar de seu recente crescimento na popularidade no setor de café especial, a fermentação faz parte da produção de café há muito tempo. 

Todo o café sofre algum nível de fermentação, já que os açúcares e ácidos presentes na mucilagem dos frutos começam a se desnaturar logo após a colheita. E isso é, em grande parte, a origem da doçura no café.

No caso do café lavado, os agricultores mergulham as cerejas despolpadas em água por várias horas para remover qualquer polpa restante e toda a mucilagem. Isso geralmente resulta num perfil de sabor mais limpo e brilhante, com a acidez mais destacada.

No entanto, nos últimos anos, tem havido um foco crescente no controle da fermentação durante o processamento, bem como no uso de micro-organismos selecionados para acelerar a fermentação. Esses métodos podem ter uma série de benefícios, que incluem melhorar os sabores e preservá-los por mais tempo. 

Quando falamos de fermentação, no entanto, devemos diferenciar entre as duas principais maneiras pelas quais ela ocorre. Trata-se de fermentação aeróbica e anaeróbica, que ocorrem com ou sem a presença de oxigênio respectivamente.

Diferenças entre fermentação aeróbica e anaeróbica

Ao incluir leveduras selecionadas no processamento do café, a presença ou ausência de oxigênio desencadeia várias reações. Entre elas, o crescimento ou a quebra de um número de substratos que produzem compostos químicos voláteis como ácidos e álcool.

Em geral, a fermentação anaeróbica é mais a comum e nela as cerejas podem ser mantidas em tanques abertos ou fechados. No caso dos tanques abertos, apenas a superfície e exposta ao oxigênio e a fermentação anaeróbica ocorre nas camadas mais abaixo. Em ambos os casos, os açúcares se decompõem por um longo tempo, criando sabores mais doces e complexos.

Em teoria, quanto mais longa a fermentação mais intensos serão os sabores no resultantes. Isso ocorre porque há maior transferência dos compostos que surgem ao longo do processo para os grãos, que neles ficam imersos por períodos mais longos. No entanto, é importante que haja controle neste processo para proporcionar somente a transferência de sabores desejáveis.

Uma das leveduras mais comuns na indústria cafeeira é a Saccharomyces Cerevisiae, a mesma que se usa na produção de pão, vinho e cerveja. Nos últimos anos, muitos cafeicultores passaram a também usar diferentes microrganismos, com o objetivo de gerar perfis sensoriais diferentes.

Camille Duez, especialista em Suporte Técnico Global de Fermentação de Café e Cacau da Lalcafé, diz que a empresa onde atua produz leveduras conhecidas por resultar em perfis de sabor desejáveis no café. “Muitos dos sabores que você percebe no café fermentado têm ligação direta com a cepa de levedura usada no processo”, explica ela.

Mãos segurando uma porção de grãos de café despolpados, retirados de um tanque de fermentação

Como a adição de levedura afeta o sabor e a qualidade do café?

Embora se diga que a fermentação pode melhorar a qualidade e o sabor do café, os produtores precisam entender mais sobre como o processo funciona para realizá-lo com sucesso.

“Durante a fermentação, a quebra de açúcares e ácidos pela levedura produz compostos aromáticos e voláteis que são absorvidos pelos grãos de café”, afirma o Dr. Renaud Boulanger, coordenador do departamento de Qualidade Sensorial de uma unidade do CIRAD, um instituto francês de pesquisa agronômica.

Ele explica que há duas maneiras de isso acontecer. “Uma delas é a transferência passiva, onde os compostos aromáticos passam da área mais concentrada para a menos concentrada. A outra é a transferência ativa, em que proteínas específicas presentes no café permitem a ele absorver esses compostos”.

Mas entender quais compostos aromáticos são transferidos da levedura para os grãos de café verde também é igualmente importante.

Entendendo o papel dos compostos da fermentação controlada na formação dos sabores

Em um estudo de 2020 intitulado Transfer kinetics of labelelled aroma compounds from liquid media into coffee beans during simulated wet processing conditions, a transferência de três compostos de levedura para café verde foi medida.

O estudo analisou quatro amostras diferentes de café, todas com diferentes quantidades de polpa, incluindo cerejas despolpadas sem mucilagem e pergaminho, bem como cerejas despolpadas com apenas pergaminho.

Os três compostos medidos no estudo foram butanal, 2-feniletanol e acetato de isoamila.  “Escolhemos esses compostos porque muitas vezes resultam em sabores mais herbáceos, florais e frutados no café”, diz Renaud. 

Especificamente, o butanal é responsável pelos sabores de maçã, chocolate e pão no café, enquanto a presença de 2-feniletanol cria mais notas florais. O acetato de isoamila, por sua vez, pode produzir notas de sabor mais tropicais, como a banana.

O estudo descobriu que, dos três compostos, a transferência de 2-feniletanol foi de longe a mais alta em todos os níveis de polpa. No entanto, a transferência de todos os compostos produzidos para o café verde é possível, embora em diferentes taxas e concentrações.

Trabalhador espalhando os grãos de café para serem secos no terreiro

Como os produtores podem controlar a transferência de sabor?

Em essência, o estudo de 2020 indica que o uso de diferentes leveduras durante a fermentação pode exacerbar e intensificar diferentes sabores no café. Isso significa que os produtores podem selecionar diferentes leveduras, dependendo do perfil sensorial que desejam criar para um café específico.

A Lalcafé produz seis diferentes cepas de levedura Lalcafé, que têm diferentes propriedades fermentativas que, por sua vez, aumentam uma variedade de compostos de sabor no café. Em última análise, isso significa que os agricultores podem criar uma gama mais diversificada de perfis de sabor.

Jean Faleiros, proprietário da Fazenda El Dorado, na Alta Mogiana, diz como seleciona certas cepas para obter sabores específicos: “para ter sabor mais frutado, com notas de frutas vermelhas, uso a cepa Lalcafé Intenso. Caso eu queura um perfil mais exótico, uso a Lalcafé Oro”. 

“Para um café mais limpo e brilhante, uso a cepa de levedura Lalcafé BSC”, acrescenta, explicando que esta cepa Lalcafé ajuda a quebrar a mucilagem em cerejas de café mais rapidamente.

No que diz respeito à melhoria da qualidade do café, as bactérias lácticas estão se tornando mais comumente usadas pelos produtores para resultar em cafés mais limpos e mais brilhantes, às vezes usados junto com leveduras. 

“Ao usar levedura, o corpo, os sabores, a doçura e a complexidade de um café podem aumentar”, explica Camille. “Quando você também adiciona bactérias lácticas, como o produto Lalcafé Bactifresh da Lallemand, você também pode aumentar o brilho e a clareza de um café.”

Jean me diz: “Na minha experiência, a fermentação controlada usando leveduras ajudou a melhorar a qualidade do meu café, bem como a criar perfis de sabor que antes eram impossíveis de produzir sem o uso de inoculação.”

A relação entre o perfil de sabor desejado e a cepa de leveduras utilizada na fermentação controlada

Em última análise, o controle da transferência de sabor durante a fermentação se resume a quais tipos de sabores o agricultor está procurando produzir em um café. 

Isso é benéfico em especial para os produtores, pois eles podem criar experiências sensoriais mais exclusivas para uma variedade de mercados diferentes – ajudando a diferenciar seus produtos e potencialmente significando que eles podem receber um preço mais alto por libra para cada lote.

“Eu sei qual perfil de sabor cada um dos meus clientes prefere”, diz Jean. “Cada mercado tem suas próprias preferências, e usar levedura me ajuda a criar perfis de sabor mais específicos e repetíveis.”

No entanto, é importante notar que muitas outras variáveis também influenciarão o sabor e a qualidade do café – como a variedade de café, a altitude e o teor de nutrientes do solo, por exemplo. Isso significa que os produtores também precisam ter esses fatores em mente ao realizar a fermentação.

Além disso, como as leveduras são microrganismos vivos, os produtores precisam estar atentos ao usá-las.

“As leveduras são microrganismos unicelulares vivos. Isso significa que não é fácil controlar tudo durante o processo de fermentação”, diz Camille. 

“Há também uma série de outros fatores que afetam o perfil final da xícara, incluindo terroir, condições climáticas, maturação da cereja e a qualidade da água usada para cultivar e processar o café”, acrescenta.

Pessoa mergulhando uma das mãos num tanque de fermentação de grãos de café

Outras Considerações

Além de influenciar a qualidade e o sabor do café, os produtores também precisam levar em consideração uma série de outros fatores ao usar leveduras durante a fermentação.

“Ao realizar a fermentação anaeróbica, por exemplo, precisamos controlar a temperatura, a pressão, o pH e várias outras variáveis”, diz Jean.

Além disso, muitos produtores também se concentram no tempo total de fermentação. Em teoria, quanto maior o tempo de fermentação, mais compostos aromáticos e voláteis serão absorvidos pelo café verde.

Na cinética de transferência de compostos de aroma rotulados do meio líquido para os grãos de café durante o estudo de condições de processamento úmido simulado, a concentração do composto 2-feniletanol aumentou durante a fermentação ao usar as cepas de levedura Oro, Cima e Intenso de Lalcafé.

No entanto, a concentração do acetato de isoamila atingiu o pico às 24 horas e depois começou a diminuir constantemente. Isso significa que significa que o controle do tempo total de fermentação tem um efeito significativo no sabor.

Processos que ocorrem paralelamente à fermentação controlada

Outros processos também ocorrem durante a fermentação, como a germinação. Isso resulta na degradação de certos compostos aromatizantes, ou mesmo uma transferência reversa deles. Tem que haver um equilíbrio e é por isso que a duração da fermentação é tão importante.

Além do tempo de fermentação, a quantidade de polpa retida nas cerejas de café também é importante considerar.

Os resultados do estudo também descobriram que o café verde contendo pergaminho absorveu menos compostos aromáticos criados pela levedura. Isso ocorre porque o pergaminho pode atuar como um filtro molecular, o que significa que os produtores podem precisar levar isso em consideração ao fermentar seu café.

Com exceção do processamento de casca úmida, o pergaminho é mantido nos grãos de café à medida que são processados. A remoção do pergaminho pode revelar uma série de novos perfis de sabor – mas os produtores devem estar cientes de que isso também pode afetar o processo de torrefação.

Grãos de café recém torrados sendo despejados no resfriador do equipamento de torra

A torra de cafés fermentados

Enquanto os produtores certamente precisam entender como a fermentação afeta a qualidade e o sabor do café, os torrefadores também precisam desse conhecimento para que possam otimizar seus perfis de torrefação.

Pedro e João Foster são os co-proprietários da Fuzz Cafés no Rio de Janeiro. Eles compraram café de Jean por algum tempo.

“Há cerca de três anos que torramos o café ‘abacaxi’ ”, diz Pedro. João conta como o perfil de sabor do café foi desenvolvido ao longo dos anos. “No primeiro ano de colheita, identificamos abacaxi e sabores semelhantes à pimenta-do-reino. No segundo ano, havia mais notas de limão e o café marcou 90 pontos”. 

“Pode ser difícil manter um perfil de sabor tão consistente, mas mostra o quão útil pode ser prever perfis de sabor”, acrescenta. No entanto, certos fatores precisam ser levados em consideração ao torrar cafés fermentados.

“Os tradicionais cafés verdes fermentados brasileiros permanecem frescos por até quatro meses, e os sabores mais delicados se deterioram mais rapidamente”, diz João. “Mais recentemente torramos um robusta, que havia sido fermentado com a cepa de levedura Cima de Lalcafé, 18 meses após a colheita e ainda estava brilhante e com sabor limpo.”

Pedro oferece alguns conselhos ao torrar cafés inoculados com levedura. “Muitas vezes torramos com um fluxo de ar mais alto, por isso é mais semelhante à torrefação por convecção”, explica ele. “Isso pode ajudar a destacar os sabores frutados e florais mais sutis.”

Grãos de café repousando em tanque de fermentação

Considerações finais sobre a fermentação controlada

Não há como negar a crescente popularidade do café processado experimentalmente entre torrefadores e baristas no setor de café especial, e é provável que a demanda continue aumentando.

Para os agricultores que procuram produzir esses cafés, investir nos equipamentos e recursos certos de antemão é essencial – assim como estar preparado para fazer experimentos aos poucos e encontrar o caminho para o esse processamento em uma escala maior.

E embora o processamento experimental possa não ser viável para alguns produtores, está claro que a fermentação controlada pode ter uma série de benefícios quando é alavancada de forma eficaz.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre torrefação de café e métodos de processamento experimental.

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

Observação: a Lalcafé é patrocinadora do Perfect Daily Grind.

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Cidades do Café: em Piatã (BA), natureza e qualidade fortalecem a comunidade cafeeira https://perfectdailygrind.com/pt/2022/07/14/cidades-do-cafe-em-piata-ba-natureza-e-qualidade-fortalecem-a-comunidade-cafeeira/ Thu, 14 Jul 2022 05:30:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=9290 No nordeste brasileiro encontra-se um oásis que contrasta com a imagem típica dessa região, seja o árido sertão ou o belíssimo litoral: a Chapada Diamantina. E é nessa enorme Chapada, repleta de trilhas e cachoeiras, com seus 41.751 km² incrustados no centro geográfico da Bahia, que temos uma das cidades mais altas (1.200 m) e […]

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No nordeste brasileiro encontra-se um oásis que contrasta com a imagem típica dessa região, seja o árido sertão ou o belíssimo litoral: a Chapada Diamantina. E é nessa enorme Chapada, repleta de trilhas e cachoeiras, com seus 41.751 km² incrustados no centro geográfico da Bahia, que temos uma das cidades mais altas (1.200 m) e frias (média de 15°C no inverno) da região nordeste: a bucólica Piatã, com seus quase 20.000 moradores. 

Situado num platô e protegido por duas serras (Santana e Tromba), esse terroir único propicia o cultivo de um café de excelência, com nuances de capim-limão e rapadura, que não percebemos em nenhuma outra cidade do país. Siga lendo para conhecer um pouco mais sobre essa cidade do café. 

Você pode gostar de ler outros artigos desta série. Um deles é: Santa Rita do Sapucaí, onde cultura cafeeira e tecnologia se encontram

cidade do café piatã

A história de Piatã e sua relação com o café

A colonização da cidade de Piatã remonta a aproximadamente 300 anos atrás, devido ao garimpo do ouro realizado pelos bandeirantes. Atualmente, a atividade cafeeira movimenta a economia municipal, principalmente na época da colheita seletiva manual, realizada por “panhadeiras”.

As principais variedades cultivadas na zona rural do município são catuaí amarelo e vermelho. Porém também é possível encontrar lavouras de mundo novo, arara, catucaí, acauã e pacamara, dentre outros.

No clima frio e seco da região, o café vira passa no pé e não cai, atingindo o seu ápice de doçura. Ou seja, o fruto permanecendo mais tempo no cafeeiro entardece sua maturação, ficando assim mais doce. O microclima, o terroir, a colheita seletiva manual devido à própria dificuldade do relevo e o cuidado dos microprodutores familiares explicam a excelência do café de Piatã.

campeão de torra túlio fernando

Prêmios e referência na produção de cafés especiais

Dentre os muitos cafés especiais produzidos em Piatã, destacam-se o Café Gourmet Piatã e o Café Rigno; vencedores de campeonatos nacionais e internacionais como o Cup of Excellence, promovido pela BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais). Ano após ano, é perceptível a presença dos cafés de Piatã figurando entre os dez melhores do país nos mais diversos concursos nacionais como o Florada Premiada, da 3 Corações, e o Coffee of the Year realizado na SIC (Semana Internacional do Café), realizada em Belo Horizonte (MG).

A cidade ganhou protagonismo na cena de café nacional, recebendo inclusive visitantes ilustres, como o Campeão Brasileiro de Torra 2022, Túlio Fernando de Souza, que foi a Piatã realizar parte de seu treinamento para o Campeonato Mundial de Torra, realizado em junho na cidade de Milão, na Itália, além de se aprofundar nos estudos dos cafés da região.

Os cafés de excelência piatãenses são exportados para a Europa, América do Norte, Oceania e Ásia. Além de já ser possível encontrá-los em todo o Brasil, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e obviamente na própria Bahia.

Vale frisar que na cidade temos como destaques a Cafeteria Rigno sempre com ótimas opções feitas pela carismática barista Marlucia Rosa da Silva, conhecida carinhosamente como Lu. Na zona rural temos o Recanto do Café Rigno na Fazenda São Judas Tadeu/Ouro Verde, direto da lavoura à xícara, servindo um café colonial na agradável companhia de Dona Terezinha Rigno. 

Voltando à cidade, temos ainda a Cafeteria Moreno Coffee Shop do produtor Rodolfo Moreno, que também possui a Moreno Torradores de Café, sendo esta juntamente com a Torrefação do Café Rigno e do Café Gourmet Piatã, as principais microtorrefações do município. Elas contribuem para a criação de um ecossistema que só cresce em torno do café de qualidade. 

cafés especiais piatã

Agricultura familiar na essência

Na dedicação diária do cultivo e um dos pilares básicos da cafeicultura local, estão os produtores. Conversamos com cinco deles, num universo de mais de 200 advindos da agricultura familiar no município. Eles têm percepções e opiniões próprias sobre a “lida” na roça de Piatã e o cultivo do produto que apreciamos e enaltecemos: o café especial.

No Sítio Cabaço do Tanque, fica a produção do Café da Lucinéia, de propriedade do casal Lucinéia Oliveira de Castro e Adiélson Magalhães de Castro. Ali são produzidos três cafés de excelência: Gourmet, Mokinha e Peneira 15+. 

A homenagem à matriarca deve-se ao que o próprio Adiélson nos disse sobre o papel fundamental de Dona Lucinéia como agricultora familiar. “Ela faz a limpeza das ruas do cafezal, ajuda na adubação dos pés e na colheita, descasca os grãos, ajuda a tirar os verdes no terreiro e mexe o café para secar. Depois de seco, ainda ajuda a colocar no saco”. Ou seja: isso é o que chamamos de uma parceria plena.

Parceria essa que rendeu frutos além do café, como podemos perceber a família reunida no cafezal e aprendendo com os pais o valor dessa relação de carinho. 

produtor de café bahia

O Café Aroma da Chapada, cultivado no Sítio Capão de propriedade de Aneiuson Souza e sua esposa, Dona Rosimeire, é daqueles lugares que possuem um encantamento próprio. Toda a estrutura da propriedade foi pensada para a produção do café, sem perder o aconchego que só uma casa na roça é capaz de proporcionar. 

As opções premium e gourmet entregam cafés de qualidade, resultado do trabalho de Aneiuson com o apoio familiar incondicional da sua companheira. A agricultura familiar é muito rica em dedicação, cumplicidade e resiliência.

“A cafeicultura para a minha família, além de uma fonte econômica de sustento, também tornou-se uma missão de vida onde encontramos a paz e a felicidade laboral do dia a dia.”

família produtora de café piatã

Todo esse propósito chega ao produto final e na busca por sua qualidade, conforme complementa Aneiuson: “Sou a terceira geração na família como cafeicultor. Esse pilar é para mim um apoio de base para a busca de novas técnicas e tecnologias para a cafeicultura”.

cafeicultura de qualidade bahia

Situada ao pé da Serra da Tromba, a uma altitude de 1.300 m, está a Fazenda Divino Espírito Santo, dos produtores Michael e Patrícia Alcântara e das suas três filhas. O local é a síntese do que significa a agricultura familiar: todos os membros estão envolvidos pela atividade cafeeira, seja na lavoura, na colheita, no processamento, beneficiamento, rebeneficiamento, torra, embalagem e comercialização do Café Gourmet Piatã.

cafés especiais bahia

No ano de 1998, Michael foi o pioneiro na produção de cafés especiais em Piatã e como o mesmo afirma: “O papel da minha esposa e das minhas filhas Milena, Letícia e Cecília foi fundamental para que continuássemos acreditando no potencial do nosso café”. 

Essa persistência e resiliência rendeu frutos para além do cafezal, como o  1° lugar no Concurso da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) em 2004, 2006, 2007 e 2018; além do 5° lugar no Cup of Excellence, promovido pela BSCA em 2004. 

E isso tudo foi agregando valor aos vários microlotes que a fazenda produz anualmente e que satisfaz os paladares mais exigentes de quem bebe café de qualidade.

Ao ser perguntado sobre como enxerga a cafeicultura em Piatã atualmente e sua perspectiva para daqui a cinco anos, Michael de imediato nos diz: “Enxergo a cafeicultura na cidade vivendo um bom momento em uma crescente promissora. Espero que daqui a cinco anos consigamos dobrar nossa cultura cafeeira”. Palavras ditas por quem vive e respira o café junto à sua família incondicionalmente.

família café produtores bahia

É da Fazenda Riacho da Tapera que vem o delicioso Café Taperinha, dos produtores Téo Jones e Camila Rocha. A hospitalidade do casal é cativante, assim como os produtos oriundos da agricultura familiar como geleias, conservas, pães e biscoitos. 

cafés especiais bahia

A visão do casal é compartilhada e nos mostra a essência do local. “Somos da agricultura familiar, uma pequena propriedade rural. Trabalhar monocultura é um tiro no pé. O nosso foco foi sempre aproveitar o que produzimos aqui e mostrar aos nossos visitantes um modelo de agronegócio diferente. Produzimos, processamos e negociamos tudo em uma pequena escala.”

cafeicultores bahia

Luísa Bittencourt é a atual presidente da COOPIATÃ (Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã), composta atualmente de 55 cooperados. A cooperativa tem no mercado cafeeiro os rótulos Tapuia (Superior), Garimpeiro (Gourmet) e Terroir (Especial).

café especial piatã

A expectativa de curto prazo da Cooperativa é realizar uma excelente colheita e enviar os cafés para os concursos, visando manter a tradição de excelência em função do trabalho e dedicação dos produtores. 

Já no médio prazo, é o café verde (grão cru) que está em voga com o objetivo de alavancar ainda mais as exportações dos microlotes e capilarizar a comercialização do café torrado no mercado interno. 

Impossível não compactuar com as palavras de Luísa impregnadas de cooperativismo, quando a questionamos no foco a longo prazo. “Nosso foco é fazer da marca COOPIATÃ uma referência mundial concomitante à melhoria de vida dos produtores, aumentando a produtividade da lavoura sem jamais perder a excelência da qualidade!”

cidades do café piatã

Piatã é uma cidade encantadora por sua gente, seu clima, suas serras e cachoeiras; mas não esqueçamos que o café é a “menina dos olhos” desse município tão simbólico para aqueles que enxergam a sofisticação na simplicidade das pequenas coisas da vida.

Créditos: Augusto Carvalho (panorâmica do município de Piatã e imagem urbana); Guto Oliveira (Túlio Fernando de Souza na Coopiatã); Café da Lucinéia (galho do café vermelho e família reunida no cafezal); Café Aroma da Chapada (família reunida e galho do café amarelo); Acervo Café Gourmet Piatã (aérea da propriedade e família Alcântara no terreiro suspenso); Café Taperinha (pés de café e família); COOPIATÃ (cafezal).

PDG Brasil

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Guia básico para produtores que querem torrar seus cafés https://perfectdailygrind.com/pt/2022/05/25/guia-basico-para-produtores-que-querem-torrar-seus-cafes/ Wed, 25 May 2022 13:53:25 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8644 Aumentar a renda, criar valor no próprio produto, divulgar e promover o nome da região, manter a tradição que leva o nome da família ou até mesmo criar uma relação direta com o consumidor. São algumas das motivações que levam o produtor de cafés especiais no Brasil a implementar a torrefação do seu  próprio café.  […]

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Aumentar a renda, criar valor no próprio produto, divulgar e promover o nome da região, manter a tradição que leva o nome da família ou até mesmo criar uma relação direta com o consumidor. São algumas das motivações que levam o produtor de cafés especiais no Brasil a implementar a torrefação do seu  próprio café. 

Mas será que vale a pena o produtor implementar a estratégia de criar valor pela torra? Como ele deverá se preparar para a nova atividade? E quais são os desafios para o produtor que quer torrar e vender o seu café diretamente? 

Para saber mais sobre o assunto, o PDG Brasil conversou com alguns produtores que já atuam no mercado de cafés especiais comercializando as suas próprias marcas de café torrado para criar um guia básico para produtores que querem torrar seus cafés. Falamos com Samuel, do Tequila Cafés, Ivan Santana, do Café Goulart e Roberta Bazilli, do Café Bazilli.

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torrar café especial

Por que começar uma torrefação de café? 

Em alguns casos, a torrefação entra na vida do produtor sem muitas pretensões. É o caso do Ivan Santana, produtor na Região Vulcânica do Sul de Minas. Inicialmente, o café que ele torrava era uma forma de presentear os amigos mais queridos.

Por meio de uma amiga, dona de cafeteria, ele descobriu que o produto tinha boa aceitação e a demanda pelo seu café começou a aumentar. “Nunca tive a intenção de torrar cafés, e as coisas foram acontecendo naturalmente”, conta Ivan. 

produtores de café especial

Ivan também explica que a torrefação o ajudou a manter o seu negócio em alguns momentos de dificuldades. “Na época, foi um momento muito difícil, tinha arrendado uma fazenda e deu tudo errado. Com a seca da safra de 2014 e a geada de 2016, perdi muita coisa. Então surgiu essa oportunidade com o café torrado, e devagarinho começou a dar certo.” 

Atualmente Ivan tem a sua própria marca de cafés torrados, o café Goulart, uma homenagem à sua mãe. 

Alguns produtores são de diferentes áreas de formação e trazem na bagagem novas ideias e experiências, o que acaba os ajudando a implementar o novo “braço na produção”.

É o caso do Samuel, produtor nas montanhas da Serra da Mantiqueira. Formado em comércio exterior, assumiu a produção de cafés a convite da família e logo, com a ajuda de amigos produtores e por meio do reconhecimento pelos concursos e premiações, descobriu que tinha um tesouro em suas mãos.

Ele decidiu que iria criar o máximo de valor possível em seus cafés produzidos dentro da fazenda. 

produtor de café especial

“Conheci outros produtores que me ajudaram bastante. Entendemos que o nosso café era especial, precisávamos saber a melhor maneira de processar esse café e como conduzir o pós-colheita. Sempre fui da área comercial e não tive dificuldade para comercializar esses cafés”, conta.

Samuel criou então o Tequila Cafés, homenagem à sua cadelinha Tequila. 

Outro exemplo é Roberta Bazilli, produtora na região da Mogiana. Graduada em Hotelaria e Q-Grader, tinha o desejo de transformar o casarão antigo do seu bisavô em uma pousada ou hotel fazenda. Mas, com o apoio de seu pai, decidiram primeiro agregar valor ao produto que já tinham nas “mãos”: o café especial. “Gostei da ideia e fui estudar sobre cafés especiais”, lembra.  

Roberta tem a torrefação que leva o nome da família, Café Bazilli. “Na época, em 2004, ainda havia poucas marcas, mas fui atrás de referências no mercado e comecei a montar a torrefação pouco a pouco.” 

fazenda café especial

Antes de começar

O primeiro passo é garantir a produção de cafés de qualidade na fazenda, ou seja, manter o foco na produção. Roberta explica: “a produção sempre caminhou junto, não podemos perder o foco em produzir um produto de qualidade e ter uma matéria-prima boa para trabalhar”.

Além disso, o produtor terá que ter o cuidado no armazenamento para garantir a qualidade. “Ter um padrão de qualidade é muito difícil e é o mais importante.”

Na mesma linha, Samuel reforça os cuidados com a lavoura e destaca o trabalho de rastreabilidade dos lotes. “Fazemos a rastreabilidade de todos os lotes da nossa produção. Esse processo nos proporciona um histórico, para sabermos o que deu certo e o que deu errado.” 

mestre de torras café especial

A capacitação dos produtores para desenvolver a ciência da torra é muito importante. Ivan explica que a torra do café não é uma atividade simples. Pelo contrário: requer algumas habilidades essenciais para desenvolver a ciência da torra, por exemplo, saber provar e analisar o café. 

“Você tem que saber torrar e saber provar o café”, explica. Ele ainda acrescenta: “fiz muitos cursos e provo café há muito tempo, tenho mais de 20 anos de experiência como degustador”, diz. 

produtores e torradores de café

Roberta também destaca a importância de se preparar. “Primeiro fui estudar, buscar informação, focada em cafés especiais. A ideia era agregar valor de uma forma diferenciada, eu não queria trabalhar com o tradicional”, conta. Hoje ela é Q-Grader. 

Samuel buscou cursos de degustação, torra e outros mais. Com o conhecimento e a experiência adquirida nos últimos anos, ele faz um trabalho de apoio com produtores da sua região. “A minha ideia é retribuir e ajudar outros produtores da mesma forma que me muitos me ajudaram quando comecei”, diz.

Antes de investir na compra de equipamentos para a torrefação, a sugestão é buscar soluções para torrar de forma colaborativa. Isso permitirá o aprendizado, a troca de conhecimento e a consolidação do seu negócio. 

“Hoje tem muita gente preparada para te ajudar a torrar o seu café no início. Você vai adquirindo experiência e, quando estiver preparado e com mercado sólido, aí sim você investe. No início é preferível você investir o valor do torrador na sua produção de cafés”, acredita Ivan. 

mestre de torras e produtora de café

Mais próximo do consumidor 

Quando falamos de um conceito de cafés especiais da planta à xícara, faz todo sentido o consumo de um produto cultivado e torrado pelo próprio produtor. E a maioria dos consumidores adoram o conceito. 

Para Ivan, o consumidor valoriza muito comprar o café direto do produtor. “Você pode ter esse contato com o consumidor e o consumidor com o produtor. É muito importante, ele saber o que está comprando. Começamos uma relação transparente, olho no olho.”

relação produtor consumidor de café

Samuel conta que foca em relações duradouras com o consumidor e está sempre atento aos feedbacks. “O que mais gratifica é receber um feedback positivo dos clientes. A gente brinca que são os nossos tequilovers. Muitas das pessoas que compraram os nossos primeiros cafés viraram nossos amigos.” 

Para Roberta, o consumidor que compra café torrado pelo produtor espera um conjunto de qualidades e princípios, que vão desde a qualidade dos cafés até as questões relacionadas com a sustentabilidade. “O consumidor espera que naquele pacotinho, além de transmitir toda a dedicação e a história do produtor, também haja sustentabilidade.” 

marca de café especial

Desafios e estratégias de comercialização  

O produtor precisa estar ciente do compromisso de entregar um produto na quantidade, no prazo e na qualidade esperada. Deverá estar atento aos canais de venda e o público-alvo (cafeterias e/ou consumidor final). “Acho a logística muito complicada. Se não fosse a minha esposa, eu não conseguiria enviar os cafés. E trabalhar com a tecnologia e comunicação digital também é difícil”,  conta Ivan. 

Conheça alguns aspectos que fazem parte do processo e merecem atenção: 

  • O planejamento da torra; 
  • A apresentação do produto (embalagens e comunicação); 
  • Os canais de venda; 
  • A logística; 
  • A distribuição;
  • A gestão dos pedidos;
  • Ações de venda. 

A maioria dos produtores utiliza a internet e as redes sociais como ferramentas para se conectar com o consumidor. “As redes sociais são um grande aliado”, diz Roberta. Ivan conta que gosta muito de usar o WhatsApp. “Gosto de ter um contato mais próximo com o consumidor.”  

Samuel comercializa aproximadamente 70% do seu café torrado para cafeterias e 30% direto para o consumidor final. Para Roberta, o produtor sempre deve ter o compromisso de manter o padrão de qualidade e entregar o café no prazo combinado. 

Alguns produtores utilizam a estratégia de torrar os cafés quando recebem os pedidos, isso permite entregar o café sempre fresquinho e fazer o perfil de torra especial para o cliente. 

fazenda de café especial

Dicas básicas para produtores que querem torrar seus cafés

Reunimos abaixo uma lista básica de itens para se ter atenção ao montar uma torrefação na fazenda. Veja: 

Dentro da porteira

  • Manter o foco na qualidade na produção de cafés especiais;
  • Mapear os processos de produção, gerar rastreabilidade;
  • Inovar na produção e no processamento dos cafés, o consumidor quer novidades e experiências.

Na torrefação

  • Criar um plano de negócios para a torrefação;
  • Iniciar a torrar de forma colaborativa ou terceirizada;
  • Capacitação e treinamentos na área da torra e análise sensorial;
  • Escutar os feedbacks dos consumidores;
  • Definir canais de comercialização e estratégias para as mídias sociais;
  • Atenção para as legislações e tributações relacionadas com a torrefação;
  • Atenção para os canais de entrega e envio do produto, custos de frete e restrições na logística;
  • Planejamento da produção (café verde e torrado) para manter o fornecimento regular.
marca de café especial

Faz todo o sentido um produto produzido e transformado pelas mãos do produtor.

A ideia de adicionar valor ao seu produto por meio da torrefação pode ser sim uma estratégia para os produtores e as produtoras participarem da cadeia de valor dos cafés especiais. Além disso, é uma alternativa que pode ajudar cafeicultoras a obterem receitas extras e ainda ajudar no enfrentamento de alguns riscos relacionados com a produção de cafés. 

A torrefação, assim como qualquer outro negócio, requer planejamento, e o seu sucesso será condicionado à capacidade de gestão do produtor e da produtora. Não significa que um bom produtor de cafés especiais também será um bom fornecedor de café torrado. É preciso ter preparo e dedicação. Mas, segundo nossos entrevistados, vale a pena!

Créditos: Acervo Roberta Bazilli (torrador; Roberta na torra; provando café com seu filho, Theo; Roberta e cafés Bazilli; casarão e terreiro), acervo Ivan Santana (Ivan no cafezal; preparando cupping; Ivan e consumidor; pacotinhos) e acervo Samuel (juntos Samuel, Tequila e Sr. Pedro e Samuel na produção). 

PDG Brasil

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O café e a força feminina no Norte do Paraná https://perfectdailygrind.com/pt/2022/05/24/o-cafe-e-a-forca-feminina-no-norte-do-parana/ Tue, 24 May 2022 06:00:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8606 Não é de hoje que vemos frentes femininas liderando posições em diversos segmentos do mercado. As mulheres estão se articulando em coletivos e grupos colaborativos, e estruturas que movimentam nossa vida já começam a ser repensadas e reorganizadas por elas. Mas e o café e a força feminina? No café, não seria diferente. São muitas […]

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Não é de hoje que vemos frentes femininas liderando posições em diversos segmentos do mercado. As mulheres estão se articulando em coletivos e grupos colaborativos, e estruturas que movimentam nossa vida já começam a ser repensadas e reorganizadas por elas. Mas e o café e a força feminina?

No café, não seria diferente. São muitas as associações de mulheres que representam o desenvolvimento e a produção de café especial de diversas regiões, como acontece no Norte do Paraná. 

São elas que se destacam pela coordenação e produção de um café de mais qualidade, numa região que há tempos vem tentando recuperar importância no que diz respeito à cafeicultura, principalmente em qualidade e identidade histórica.

Depois das geadas de 1975, que dizimou os cafezais, o Paraná – que já foi o maior produtor mundial – perdeu protagonismo com o café e deu lugar à soja. No entanto, mostra hoje sinais de resgate com grupos de mulheres da agricultura familiar, que fincam a bandeira do cultivo de café especial no sul do Brasil.  

O PDG Brasil foi conversar com a AMUCAFÉ (Associação das Mulheres do Norte Pioneiro do Paraná), com as Mulheres do Café Matão e as Mulheres do Café do Vale do Ivaí, para conhecer histórias que carregam um poder de impacto para além da produção cafeeira. 

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mulheres cafeicultoras

Autoconhecimento e a força feminina 

“Estar à frente da associação é fazer uma imersão na minha própria história, é um aprendizado constante”, declara a produtora Elielce Monteiro, que faz parte da AMUCAFÉ, criada em 2013. 

Essa declaração é apenas uma em que se percebe o quanto a relação e a troca com outras mulheres têm sido transformadoras na vida de Elielce. É como se o café fosse o conector com outras mulheres de mesma vivência, antes silenciadas e sem poder de escolha, e agora ocupando lugares de protagonismo no mercado cafeeiro e na sociedade como um todo. 

Parece que essa caminhada conjunta a faz entender quem ela é, como mulher, da roça, que gera e produz os frutos da terra. “Por meio do café conheço tantas pessoas, tantas outras mulheres e suas histórias de sabedoria, de superação, de luta e de conquistas”, conta.  

força feminina do café

A mulher à frente da propriedade rural 

Para a produtora Janaína Assad, enxergar o novo é o que impactou sua vida desde que deu atenção para o café especial, em específico sobre o cuidado com o fruto e o protagonismo, que passa então a ser também da mulher.

“Toda vida eu morei na roça, mexi com café, mas depois que entrei na associação melhorou muito. Eu comecei a olhar pro café diferente, e a entender que café não é tudo igual. O café me fez mudar o pensamento, deixar o velho para trás e aceitar o novo, me modernizar, porque a agricultura tem de se modernizar. O velho, o antigo, já não serve mais.” 

Ela comenta ter ficado receosa em participar da Associação das Mulheres do Vale do Ivaí, criada em 2021. Mas nos primeiros encontros já começou a se interessar, a querer aprender mais, para logo estar inteiramente focada em produzir um café de qualidade. 

“Fui seguindo os estudos, me interessando, e hoje quando volta seu café da análise e deu bebida mole, mais de 83 pontos, você vai lá nas nuvens e volta.” Ela diz ainda que isso é um incentivo, que as pessoas da roça, da lavoura, precisam de incentivo, se não desistem. 

“Não é fácil, não depende só do seu trabalho, depende do clima, do sol, da chuva. Tem seca, tem geada, tem época que a gente nem consegue produzir. Mas eu tô grata, eu tô aprendendo.” 

E parece aprender também sobre posicionamento e o lugar da mulher. Ainda que mencione a delicadeza, a paciência e o cuidado como características especiais para lidar com café, Janaína se mostra a par da importância e urgência da igualdade de gênero em todos os âmbitos da sociedade, ainda mais no campo. 

“Isso valoriza nosso trabalho, dá mais visibilidade, e isso pra nós, mulheres da roça, é muito importante, porque sempre foi o homem à frente da propriedade, eram só eles nas reuniões, que participavam e decidiam tudo, mas agora não. E isso tem que mudar. Passou da hora de mudar, porque nós cuidamos juntos da propriedade”, complementa. 

mulheres do café

Expansão do café de qualidade junto à valorização da mulher 

A formação de um grupo, de um movimento, com objetivos e conquistas, trouxe mais sentido para a vida de Eloir Souza, que deixou de ver o café apenas como moeda. “Desde criança eu já ia para a lavoura com meus pais, e desde então o café era apenas fonte de renda, de sustento da minha família. Eu via o café apenas como uma moeda, mas o café especial faz a gente pensar de forma diferente.” 

Não é à toa a premissa de que o café é fonte de conexões e transformações de vida. Pode-se dizer que a busca por qualidade, entendimento de processos, valorização do trabalho e negociações justas, conceitos que se encaixam no café especial, servem também para o momento de visibilidade feminina.

“Café especial é mais trabalho, mas tem mais amor e dedicação também. Eu consegui premiações, a valorização da mulher, porque a mulher sempre trabalhou, mas não era vista. Hoje a mulher recebe em casa, fala das negociações, recebe prêmios.” 

Eloir, que faz parte das Mulheres do Café Matão, ficou em 1º lugar no concurso Qualidade Paraná, em 2015, e no 3º lugar em 2021, além de outras colocações e participações em concursos, como o Cup of Excellence e Sabores do Norte Pioneiro.

café especial

O café como um lugar seguro e de resistência

Segundo a Diretora de Inclusão e Diversidades e Diretora de Eventos da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), Dandara Renault, essa conexão e união, que atinge as produtoras e toda a cadeia do café, vêm do incômodo e da angústia de mulheres inquietas, que já não vivem de acordo com protocolos impostos à existência da mulher.

“Quando falo sobre o impacto da organização na vida das mulheres, gosto de dar um passo atrás e deixar claro que ser mulher é uma construção. Nenhuma de nós nasce com as questões que nos une, nos unimos porque nos são impostas diariamente características e posturas que nos retiram a possibilidade de exercermos nossas potências em plenitude.”

Para Dandara, esses movimentos e essa possibilidade de estarem juntas, geram reconhecimento e o cooperativismo, tendo o café como conector para um espaço de proteção e acolhimento. Uma conexão que permite que elas se vejam, se reconheçam, se organizem e operem uma revolução.

“São espaços realmente de segurança. São nesses espaços que se encontra forças para denunciar assédio moral e sexual no trabalho. São nesses espaços que é compartilhado conhecimento produzido por nós. São nesses espaços que nos sentimos livres para expormos nossas dúvidas sem sermos diminuídas. Com isso diminuem os riscos de doenças psíquicas e crescem as chances de empoderamento.” 

Assim, a IWCA defende, além da equidade de gênero, o respeito à diversidade racial e regional, com acesso à educação, empoderamento e união das mulheres, independentemente da etapa e processos que cada uma executa.

A organização, que representa as mulheres que operam à frente do cultivo de café especial, está presente em 30 países produtores, a conectar e orientar o pensamento de gênero na cadeia de produção e consumo do café. Por isso, pensando no apreciador (o coffee lover) como influente no ciclo do café, atua também em países apenas consumidores, como Alemanha, Japão e Itália. 

mulheres do café do matão

Mulheres do Café no Norte do Paraná 

No Brasil, a IWCA está subdividida em regiões produtoras como Alta Mogiana, Campo das Vertentes, Chapada Diamantina, Cerrado Mineiro, Montanhas do Espírito Santo, Sul de Minas, Rondônia e outros mais. 

No Norte do Paraná, atua com o projeto Mulheres do Café, que reúne as associações AMUCAFÉ, Mulheres do Café Matão e Mulheres do Café do Vale do Ivaí, onde estão presentes Elielce, Janaína, Eloir e indiretamente Dandara. 

Na região, o projeto está interligado ao Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) e Emater, e juntos realizam atividades técnicas e de desenvolvimento social com mais de 250 mulheres, em 11 municípios do Norte Pioneiro e quatro no Vale do Ivaí.   

cafeicultoras do brasil

Segundo informações do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o 5º no ranking nacional de produção do café arábica. No estado, como um todo, a safra de café commodity nos últimos dois anos atingiu 58 mil toneladas, produzidas em uma área total de 34 mil hectares. 

Mas é o café especial propriamente dito que serve de caminho para a passagem dessas mulheres, que serve como elevação pessoal e social para muitas cafeicultoras do Norte do Paraná e de todo o mundo. Hoje muitas falam: “o futuro é feminino”, e o mundo do café já gira com a força delas, promovendo transformações pessoais de autoconsciência, representatividade, visibilidade, poder de decisão e maior compreensão e atuação da mulher na sociedade.  

Créditos: Acervo Elielce Monteiro (frutos/destaque); Manifesto Café (montagem Elielce); Acervo Janaína Assad (montagem de fotos); Acervo Eloir Souza (montagem de fotos); Divulgação Norte Pioneiro (cafezais); Divulgação Mulheres do Café do Matão (cafeicultoras e frutos de café); Divulgação IWCA (cafezal com frutos).

PDG Brasil

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A história do Porto de Santos em 10 imagens https://perfectdailygrind.com/pt/2022/05/17/a-historia-do-porto-de-santos-em-10-imagens/ Tue, 17 May 2022 17:37:35 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8370 O Porto de Santos é o maior complexo portuário do Brasil, e também da América Latina, além de ser o porto que mais exporta o grão no mundo. Aproximadamente 94% das linhas internacionais, em frotas de containers, com rotas que incluem o Brasil, passam por escalas em Santos. Oficialmente, o Porto de Santos tem 130 […]

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O Porto de Santos é o maior complexo portuário do Brasil, e também da América Latina, além de ser o porto que mais exporta o grão no mundo. Aproximadamente 94% das linhas internacionais, em frotas de containers, com rotas que incluem o Brasil, passam por escalas em Santos. Oficialmente, o Porto de Santos tem 130 anos, completados em 2022, mas as operações portuárias do local datam de 1540.

O café, tanto commodity quanto especial, é negociado, rebeneficiado (processo de inspeção e certificação de qualidade de acordo com os moldes das transações internacionais do produto), e transportado com origem no complexo portuário de Santos. 

Neste artigo, o PDG Brasil explora a trajetória cultural e econômica do Porto de Santos por meio de 10 fotos que retratam momentos da história do complexo portuário e informações cedidas pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) e pela Santos Port Authority

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museu do café

1 – Vista do Valongo com a torre do relógio da Bolsa do Café (Museu do Café de Santos) 

Panorama geral

No complexo portuário de Santos giram os valores correspondentes a aproximadamente 1/4 das trocas mercantis brasileiras, cujas operações, em 2021, alcançaram números de cerca de US $135 bilhões, 27% do montante total do ano. 

O eixo do porto de Santos com São Paulo, capital, concentra o epicentro das operações mercantis nacionais e globais, de importação e exportação, cuja zona de influência compreende cinco Estados (MT, MS, GO, MG e SP), que refletem 51% do PIB brasileiro.

A participação de mercado do Porto de Santos corresponde a 81% dos transportes do café destinados ao território nacional, e a 76,4% do total de café exportado pelo Brasil. 

imagem histórica porto de santos

2 – Benedito Calixto – Praia e rampa do Consulado, 1882

O Porto e os conquistadores portugueses

A costa da ilha de São Vicente abrigava a primeira vila do Brasil, de mesmo nome, instituída pelo comandante português Martim Afonso de Sousa em 1532 (com protestos dos habitantes locais, os índios tupis, hábeis construtores de canoas e então o grupo cultural e linguístico mais populoso do país). 

Por conta das explorações cada vez mais frequentes de armadas espanholas, francesas e holandesas, além de ataques de navios piratas, a delegação portuguesa buscou um refúgio apropriado na região para proteger os navios. 

Esse foi o começo da história do Porto de Santos, pois na costa de S.Vicente (batizada como tal pelo navegador italiano Américo Vespúcio, que chegou à região antes dos portugueses) as condições geográficas não eram propícias para manter as armadas resguardadas de ataques. 

Santos foi preterida pela geografia, e por sugestão de Brás Cubas, o fundador da vila de Santos, pois lá havia o estuário (onde ocorre a transição entre rio e mar) Lagamar do Enguaguaçu, que, cercado de montanhas, oferece maior proteção. 

porto de santos história

3 – Obras para a construção da estrada ao porto de Santos, 1870

Entretanto existia outra razão para que os portugueses instaurassem o porto nessa área: uma das missões principais de Martim Afonso era monitorar o acesso ao Peabiru (“caminho aberto”, em Tupi), que conectava os litorais de São Paulo e Santa Catarina, com conexão ao Paraguai, Bolívia e Peru, cujas trilhas era usadas pelos nativos brasileiros e andinos para conduzir transações comerciais.

De porto das canoas tupis, a região tornou-se então o “porto das naus” dos conquistadores portugueses, que no século 16 introduziram o cultivo de cana-de-açúcar no país, e usavam o complexo para transportar as cargas do produto a Portugal. 

fundação porto de santos

4 – Weinschenck, o engenheiro chefe da construção do porto organizado de Santos e a pedra fundamental da obra

O Porto e Portugal

Nessa época, as cargas que deixavam os portos brasileiros eram destinadas apenas aos territórios da Coroa portuguesa, que também enviava mercadorias ao Brasil colonial.

O acesso ao porto foi facilitado no final do século 18, quando foi construída a estrada pavimentada que ligava Santos a São Paulo, através do caminho da Serra do Mar. 

A via, chamada Calçada do Lorena, passou a ser utilizada para o transporte dos grãos de café destinados à exportação a partir de 1795, e durante quase 70 anos foi o principal meio de ligação entre o Planalto e a Baixada. 

As obras de melhoria quanto a facilitação do acesso ao porto foram patrocinadas pelos primeiros lucros derivados do início da cafeicultura no Sudeste do Brasil, no século 19, fez com que o café superasse a mineração como a principal atividade econômica do país.

Como o Brasil já era independente da coroa portuguesa, os rendimentos das operações de exportação não mais deixaram o país, como acontecera com o açúcar, ouro e minérios. 

porto de santos

5 – Chegada do café para embarque no Porto de Santos, 1928 

O Porto e o café

O porto de Santos é um dos pilares mais importantes do mercado cafeeiro do Brasil atual e historicamente.

Do século 16 ao final do século 19, o Porto de Santos era estruturado de forma rudimentar, e a data da inauguração oficial remete à primeira concessão do Porto a investidores privados, com a fundação da Companhia Docas de Santos (CDS), em 02 de fevereiro de 1892. 

Da construção dos primeiros 260 metros do cais aos tempos atuais, o Porto de Santos se estabeleceu como o maior do Hemisfério Sul.

exportação de café

6 – Embarque de café pelo Porto de Santos, 1928

Foram os rendimentos derivados do ciclo do café que patrocinaram os investimentos que promoveram a expansão econômica do estado de São Paulo nos últimos dois séculos, o que incluiu a cidade de Santos e a zona portuária da região. 

mulheres do café

7 – As catadoras de café nos armazéns de beneficiamento próximos ao Porto – Mostra “As Mulheres do Café”, Museu do Café de Santos

O planejamento urbano da cidade previa a instauração de ruas e praças, cassinos e teatros, edifícios e pavimentos, de acordo com as tendências da arquitetura da época. 

Santos passou a refletir a importância do mercado do café, e em 1922 foi construída a primeira bolsa de negociação exclusiva para café no Brasil, a Bolsa do Café, que hoje abriga o Museu do Café do estado de São Paulo. 

cidade de santos

8 – Panorama visto das montanhas do Monte Serrat, que dão vista ao terminal portuário, 1928

O Porto e a industrialização 

Em 1859, os chamados “Barões do Café”, ou os empresários líderes do segmento, co-patrocinaram junto ao governo imperial a construção de uma estrada de ferro, meio mais eficaz – e moderno – de conectar São Paulo ao Porto de Santos. 

Inicialmente considerada uma obra difícil por conta dos 800 metros de altitude espalhados em 8 quilômetros de extensão da serra do Mar, a Estrada de Ferro São Paulo Railway (ou Santos-Jundiaí) foi inaugurada em 1867. 

A partir daí, a produção de café, e de outras mercadorias oriundas do estado de SP, passaram a ser transportadas ao Porto em cerca de quatro horas.

Com a formação de capital derivado da indústria de produção e exportação de café, a economia brasileira se fortaleceu de forma a catalisar o investimento que deu origem ao ciclo da industrialização, no início do século 20.

Em 8 de novembro de 1980 termina a concessão dos serviços portuários à Companhia Docas de Santos. A administração portuária retorna para o Governo Federal, por meio da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Nessa época, a Companhia mantinha o monopólio das operações portuárias no Porto Organizado.

santos cidade porto

9 – Vista aérea de parte do complexo adjunto do Porto de Santos

O Porto e a globalização

A recém-completa transição para a dominância da movimentação por containers impulsionou a expansão para a margem esquerda do estuário, no município de Guarujá.

A partir de 1993, foi promulgada a Lei de Movimentação dos Portos, que introduziu a inclusão de terminais de uso privado (TUPs) para operação de cargas. 

As companhias passaram a investir na infraestrutura do complexo portuário, cujos processos  passaram, em 2013, a serem centralizadas em Brasília. Em 2019, a Codesp foi rebatizada como Santos Port Authority, com o objetivo de reposicionar a marca internacionalmente.

Em 130 anos, o índice de produtividade do Porto de Santos aumentou mais de 600%. No começo do século 20, quando o complexo se tornou o primeiro porto organizado do Brasil, se levava em média um mês para que um navio completasse os processos de carga ou descarga, atualmente se conduz tais operações em aproximadamente 12 horas. 

10 – Vista atual do Porto de Santos

Um lugar que respira a história do país, o Porto de Santos é também um ícone quando se estuda a trajetória do café no Brasil. Sua estrutura e sua evolução contribuíram muito para que o país alcançasse o posto de maior produtor e exportador de café no mundo. 

Por ali, entre aquelas ruelas antigas, que agora são pavimentadas e bastante movimentadas, passaram muitos grãos que se destinaram a países de todo o planeta. 

Créditos: Imagens gentilmente cedidas pelos acervos do Museu do Café (Theodor Preising e arquivo), Santos Port e Santos Brasil (imagem contemporânea do Porto com containers), WIKIMEDIA COMMONS (quadros de Benedicto Calixto). 

PDG Brasil

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Como a digitalização pode conectar os consumidores aos produtores de café? https://perfectdailygrind.com/pt/2022/04/27/como-a-digitalizacao-pode-conectar-os-consumidores-aos-produtores-de-cafe/ Wed, 27 Apr 2022 13:51:21 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8271 A digitalização está se tornando o foco para a indústria global do café.  Para os produtores, significa melhorar como os dados são armazenados, bem como aumentar o acesso a esses dados e aos instrumentos necessários para os utilizar. Por outro lado, isso significa que compradores, torradores e consumidores podem saber, de forma confiável, de onde […]

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A digitalização está se tornando o foco para a indústria global do café. 

Para os produtores, significa melhorar como os dados são armazenados, bem como aumentar o acesso a esses dados e aos instrumentos necessários para os utilizar. Por outro lado, isso significa que compradores, torradores e consumidores podem saber, de forma confiável, de onde seu café veio e quem o cultivou.

A digitalização é um tema importante em ambos os extremos da cadeia de abastecimento. Mas como pode ser utilizado para reduzir a lacuna entre produtores e consumidores? E isso ajudará a indústria do café a se tornar mais transparente e sustentável?

Para responder a essas perguntas e saber mais, conversamos com três pessoas na Yara. Continue lendo sobre as suas percepções a respeito da digitalização na indústria do café.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como a digitalização pode melhorar a rentabilidade nams fazendas de café.

digitalização na cafeicultura

O que a digitalização significa para os produtores?

Em termos gerais, a digitalização na origem significa melhorar como os produtores podem introduzir, acessar e utilizar dados. Os dados podem variar, desde preços do café e condições meteorológicas previstas até mapas agrícolas e saúde do solo.

José R. Sanín Abisambra é o gerente sênior do Yara’s Coffee Club, um aplicativo móvel projetado para cafeicultores.

“A digitalização significa acompanhar todas as variáveis relevantes e garantir que a informação esteja disponível”, explica. “Isso permite que todas as partes interessadas tomem decisões mais informadas e melhorem as práticas agrícolas, a produtividade e a qualidade do café – impulsionando a sustentabilidade e melhorando os meios de subsistência dos agricultores.”

“A maioria das partes interessadas – incluindo os agricultores – às vezes são incapazes de rastrear os custos (econômicos e ambientais) da produção, comércio e transporte de café.”

Se os dados não forem armazenados eletronicamente em toda a cadeia de fornecimento de café, pode ser difícil para os produtores, comerciantes, torradores e consumidores rastrear os cafés até a fazenda em que foram cultivados. Também restringe o acesso às informações sobre o que foi pago pelo café, incluindo preços de porta de fazenda ou frete a bordo (FOB).

“Uma das razões pelas quais o café pode ser econômico e ambientalmente insustentável é porque a maior parte da produção e do comércio permanece ‘invisível’”, diz José. “Para resolver isso, lançamos o Coffee Club na Colômbia em março de 2021, um aplicativo projetado especificamente para cafeicultores que está disponível para usuários de Android e iPhone.”

A Statista estima que, até 2027, cerca de 7,7 bilhões de pessoas terão acesso a smartphones – o que, sem dúvida, inclui alguns dos 125 milhões de pessoas que dependem do café para sua renda.

José explica: “Inicialmente pensamos que seria difícil para o aplicativo alcançar um público amplo, mas nos conectamos com mais de 20.000 agricultores de regiões produtoras de café em toda a Colômbia”.

“O tamanho médio da fazenda do usuário do aplicativo é de 2 ha. Isso significa que estamos alcançando pequenos agricultores que poderiam se beneficiar mais com o acesso a ferramentas digitais em sua fazenda.”

digitalização na cafeicultura

Melhorar a qualidade e a produtividade do café

Um dos muitos benefícios que vemos da digitalização da cadeia de fornecimento de café é uma melhoria no acesso a ferramentas de educação e agricultura. 

Quando dimensionado corretamente, isso pode gerar impacto positivo a longo prazo para a qualidade e a produtividade do café. Esse é que é o problema.

“O Yara’s Coffee Club tem quatro recursos principais que fornecem acesso a informações digitais importantes – ajudando os agricultores a tomar decisões informadas e melhorar a produtividade e a qualidade do café”, diz José.

“Com uma previsão meteorológica local, os agricultores podem acessar uma previsão meteorológica detalhada e local de cinco dias para suas fazendas, incluindo chances de chuva, faixas de temperatura esperadas e volume de precipitação previsto”, diz ele. “Isso permite que os cafeicultores planejem seu trabalho e identifiquem os melhores momentos para realizar atividades-chave, como a aplicação de controles sanitários.”

A aplicação correta de fertilizantes é estratégia comprovada para melhorar a produtividade, o que ajuda a aumentar a rentabilidade da fazenda. Uma maneira de avaliar a aplicação ideal de fertilizantes é medir a saúde do solo.

Victor Ramirez Builes é cientista sênior e especialista técnico em produção de árvores de café da Yara. Ele diz por que a saúde do solo é tão importante para os cafeicultores.

“A saúde do solo indica a capacidade com que o solo pode suportar a produção de café, mas também mantém o ecossistema, como a qualidade da água, o ciclo de nutrientes e a fixação de carbono”, diz ele. “Quando a saúde do solo piora, a produtividade dos cafeeiros cai, por isso é importante melhorar e manter a saúde do solo por meio das aplicações adequadas e equilibradas de fertilizantes.”

Ao melhorar o acesso a ferramentas agrícolas digitais – como as ferramentas digitais Ayra, AtFarm e Farm Weather, da Yara -, os produtores de café podem armazenar com precisão e segurança dados relacionados à saúde do solo. O registro desses dados permite que os agricultores acompanhem as variáveis de saúde do solo (como o teor de nutrientes) com maior confiança.

“A medição contínua da saúde do solo permite que os produtores tomem melhores decisões sobre a aplicação de fertilizantes, como a frequência e a quantidade de aplicação”, diz Victor. “Além disso, melhorar o armazenamento e a fixação de carbono protege o solo sob condições climáticas extremas, reduz o risco de erosão e ajuda a mitigar as mudanças climáticas.”

Quando o solo está mais saudável, menos insumos externos são necessários”, diz ele. “Há também um impacto mais positivo e direto na obtenção de emissões líquidas mais baixas de efeito estufa, na redução dos custos de produção e na melhoria da sustentabilidade econômica e ambiental.”

digitalização na produção de café

Tornar os dados acessíveis através da digitalização

Embora o registro e o armazenamento de dados agrícolas precisos constituam a ser um passo importante no processo mais vasto de digitalização, só se tornarão eficazes quando a maioria dos produtores tiver acesso a esses dados. 

Simone Sala é a Diretora de Solos Globais e Soluções Ecossistêmicas da Varda.

“Em 2022, Yara criou a Varda: uma startup que facilita a descoberta e o compartilhamento de dados agrícolas para apoiar a transformação da agricultura e da indústria de alimentos”, diz ele. “A Varda opera uma plataforma digital onde os dados agrícolas e de campo são gerados pelos produtores por meio de sensores, máquinas, ferramentas agrícolas digitais, sistemas de software de gestão agrícola e diários de bordo do agrônomo.”

“Os dados são armazenados com segurança e disponibilizados para aqueles que operam em cadeias de valor agrícolas para tornar a agricultura mais sustentável, resiliente e transparente.”

Ao compartilhar esses dados com mais cafeicultores, o conhecimento sobre o café pode ser disseminado por todas as comunidades locais para construir uma base compartilhada de conhecimento.

José explica como o fechamento da lacuna entre pesquisadores e agricultores pode beneficiar a produtividade do café. “Com o Coffee Club, a Yara colocou décadas de pesquisa e experiência ao alcance dos produtores de café”, diz ele.

“O Coffee Club fornece aos agricultores um plano nutricional detalhado que inclui uma lista de produtos, o número de aplicações necessárias e a quantidade de produto por planta necessária para maximizar a produtividade da fazenda.”

No entanto, pode ser útil para os agricultores terem acesso a informações e conhecimentos em tempo real, especialmente em tempos de condições climáticas extremas ou de ocorrência crescente de pragas e doenças.

“Os agrônomos digitais de café da Yara podem ajudar nossos usuários com qualquer problema que possam ter em relação à fazenda”, diz José. “Os cafeicultores podem entrar em contato com nossos especialistas e fazer qualquer pergunta relacionada à sua fazenda.”

“A comunicação é direta e flexível, utilizando canais digitais familiares aos cafeicultores, como o WhatsApp”, acrescenta José. “Fotos e notas de áudio podem ser adicionadas para ilustrar melhor os problemas.”

Muitos pequenos produtores de café têm acesso limitado a equipamentos de teste de laboratório de alta qualidade para avaliar fatores como a saúde do solo ou a aplicação ideal de fertilizantes.

A Yara tem um serviço de portfólio digital, conhecido como Megalab”, diz Victor. “Esse é um serviço analítico que pode receber amostras de solo de fazendas. As amostras são analisadas no laboratório quanto à sua fertilidade, respiração e quanto à quantidade de carbono armazenada no solo.”

“Esses resultados podem ser integrados a outras ferramentas, como o sistema de Recomendação de Fertilizantes Yara, que interpreta os resultados do laboratório e recomenda outras ações necessárias.”

inovação na produção de café

Como melhorar a transparência?

Na indústria do café, é comumente reiterado que, para alcançar a sustentabilidade em toda a cadeia de suprimentos, os dados sobre as práticas agrícolas e os preços do café devem ser tornados mais transparentes. 

Os preços do café estão continuamente flutuando, a tal ponto que atingiram os níveis mais altos registrados em 10 anos no início de fevereiro de 2022.

“O preço C é muito volátil, então saber o preço atual é muito importante para os cafeicultores”, explica José. “O Yara ‘s Coffee Club fornece acesso rápido aos preços atuais, incluindo o preço do mercado de ações de Nova York e os preços locais em todas as regiões da Colômbia nas várias unidades (kg, saco ou arroba).

“Esse é um recurso popular; os usuários são notificados quando os preços são atualizados.”

Para os agricultores, acompanhar a instabilidade e as flutuações contínuas dos preços do café é importante, pois os ajuda a melhorar seus rendimentos. Mas garantir que uma série de dados esteja disponível para os produtores também é importante.

“Um dos problemas com a coleta e o armazenamento de dados é que, muitas vezes, diferentes sistemas e ferramentas são usados, criando uma enorme fragmentação e torna demorado agregar dados”, explica Simone.

“Por essas razões, a Varda desenvolveu o Field ID – um sistema de referência espacial comum para tornar a agregação de dados agrícolas e de campo mais fácil e simples”, acrescenta.

O fornecimento de orientações mais completas sobre as práticas agrícolas pode permitir que os produtores de café implementem sistemas mais sustentáveis – levando a modelos de economia mais circulares nas fazendas.

produção de café moderna

Conexão com o consumidor

No entanto, não são apenas os produtores que se beneficiam da digitalização na cadeia de fornecimento de café. 

“Consumidores e varejistas estão cada vez mais exigindo mais informações sobre as características e origens do café, bem como torradores e comerciantes estabelecendo metas ‘net-zero’ cada vez mais ambiciosas em apoio a um sistema alimentar mais ecológico”, diz Simone.

A Confederação da Indústria Britânica afirma que os compradores de café europeus estão cada vez mais exigindo mais informações sobre as origens de seus cafés, como a fazenda em que o café foi cultivado ou quanto o agricultor foi pago.

“Documentar dados sobre como e onde o café é cultivado e processado é fundamental”, explica. “Infelizmente, essa é uma atividade muito complexa e cheia de recursos.”

Mas melhorar o acesso aos dados por meio da digitalização pode facilitar para os consumidores e compradores confiarem que o seu café foi obtido e produzido de forma ética e sustentável, à medida que os dados são armazenados de forma segura.

“Ferramentas como a Field Stories facilitam a busca das informações necessárias e facilitam o uso integrado dos dados disponíveis pelos usuários finais, como os auditores que podem certificar a neutralidade climática da produção de café”, explica Simone. “Ao facilitar o acesso a várias fontes de dados, a Varda pode facilitar a rastreabilidade de ponta a ponta de informações relacionadas à produção e processamento de café.”

O feedback da melhoria em rastreabilidade e transparência também beneficia os agricultores, diz José.

“Quando os agricultores recebem feedback direto, eles podem ajustar suas práticas para atender às necessidades dos consumidores dispostos a pagar preços mais altos por seu café”, diz ele.

Preencher a lacuna entre produtores e consumidores só fortalecerá a resiliência de uma indústria global de café sustentável.

“Aproximar consumidores e produtores trará eficiência e transparência à cadeia de suprimentos – permitindo que os agricultores aumentem o valor de seus cafés e retenham mais desse valor”, acrescenta José.

Simone diz: “Fomentar a colaboração entre os atores da cadeia de fornecimento de café garante que tanto os agricultores quanto os consumidores possam compartilhar os benefícios da digitalização.”

digitalização no campo

Os contínuos esforços para digitalizar a produção de café ajudarão os produtores a maximizar a qualidade e a produtividade das suas plantas. Quando dimensionado corretamente, isso pode melhorar seus resultados econômicos.

No entanto, devemos lembrar que benefícios como esses são sentidos em toda a cadeia de fornecimento de café, pois os consumidores podem ter certeza de que suas compras são transparentes, rastreáveis e éticas.

“Tornar o café rastreável e transparente dará aos consumidores e agricultores o poder de tomar decisões informadas”, conclui José.

Tradução: Daniela Trindade.

Créditos: Yara.

Observação: a Yara é patrocinadora do Perfect Daily Grind.

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Cidades do Café: Santa Rita do Sapucaí, onde cultura cafeeira e tecnologia se encontram https://perfectdailygrind.com/pt/2022/04/14/cidades-do-cafe-santa-rita-do-sapucai-onde-cultura-cafeeira-e-tecnologia-se-encontram/ Thu, 14 Apr 2022 15:46:35 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=7850 Num país cafeeiro como o Brasil, milhares de cidades têm o café com um de seus pilares culturais e financeiros. Para dar visibilidade e apresentar esses lugares especiais, o PDG Brasil apresenta a série de artigos “Cidades do Café”. Para estrear esse conjunto de artigos, vamos retratar a conexão entre Santa Rita do Sapucaí e […]

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Num país cafeeiro como o Brasil, milhares de cidades têm o café com um de seus pilares culturais e financeiros. Para dar visibilidade e apresentar esses lugares especiais, o PDG Brasil apresenta a série de artigos “Cidades do Café”. Para estrear esse conjunto de artigos, vamos retratar a conexão entre Santa Rita do Sapucaí e o café.

Com 40 mil habitantes, Santa Rita do Sapucaí tem um renome maior que sua área ou que a população ali residente. Conhecida como “o Vale do Silício brasileiro”, a cidade conta com importantes instituições de ensino voltadas a áreas relacionadas à tecnologia, sendo a principal delas o Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações, faculdade e hub de inovações reconhecido em escala global pela excelência que possui.

Mesmo com toda essa reputação baseada na alta tecnologia, há muito espaço para atividades tradicionais como a cafeicultura e a criação de gado leiteiro. Situada às margens do rio Sapucaí Mirim, no extremo sul do estado de Minas Gerais e em meio à Serra da Mantiqueira, a cidade tem as prerrogativas necessárias para ser protagonista regional no mercado de cafés especiais e por isso mesmo conta com profissionais e empresários ativos na condução desse projeto.

Para conhecer um pouco mais sobre os motivos de Santa Rita ser uma das cidades do café, PDG Brasil conversou com empresas e profissionais importantes de diversos setores locais que direta ou indiretamente têm ligação com o cultivo, o processamento e a comercialização desses grãos tão admirados.

Você também pode se interessar por este artigo: Os desafios para tornar o café especial mais inclusivo no Brasil.

café mantiqueira de minas

Contextualizando o surgimento da cafeicultura na cidade

Janilton Prado, secretário municipal de Cultura, Esportes, Turismo e Lazer conta que o cultivo dos primeiros pés de café na cidade data do ano de 1870, segundo estudos realizados pelo historiador Ideal Vieira. O primeiro cafeicultor do município foi Joaquim Cândido Rodrigues, cujas terras hoje fazem parte da Fazenda Chalé, que atualmente se dedica à pecuária leiteira, outra atividade de destaque na economia local.

De acordo com o secretário, a cafeicultura só passou a fazer parte da realidade local por conta da chegada da ferrovia à cidade e à região. “Inicialmente, a produção agrícola local era baseada na plantação do fumo, uma vez que se precisava optar por algo que fosse leve e de fácil negociação, considerando que o produto era transportado no lombo de burros de carga até o Rio de Janeiro. Com a chegada da estrada de ferro passou a ser viável o cultivo de outras espécies, e foi aí que o café entrou em nossas vidas.” 

Desde então, o cultivo do cafeeiro foi se tornando cada vez mais relevante economicamente na cidade, a ponto de o município ter ficado completamente arrasado quando houve o grande crash da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Aos habitantes de Santa Rita, parecia que não haveria mais saída e que a miséria seria a nova realidade a que todos estariam submetidos. Felizmente a história tratou de percorrer outros caminhos, como podemos ver a seguir.

sinhá moreira santa rita do sapucaí

Sinhá Moreira: uma unanimidade local

Avançando um pouco mais na história, chegamos ao nome de uma personagem que é citada ao longo das conversas que tivemos com praticamente todos os entrevistados para este artigo: Luzia Rennó Moreira ou Sinhá Moreira, como é carinhosamente chamada pelos santarritenses. Sobrinha de Delfim Moreira, ex-presidente da república que residiu em Santa Rita do Sapucaí desde a juventude até seus últimos dias, ela é citada como referência tanto pelos personagens do mercado de cafés quanto por aqueles cujas atividades têm mais a ver com o lado empreendedor e inovador do município.

De acordo com Janilton, Sinhá Moreira teve um casamento arranjado com um primo, que era também diplomata. Justamente devido à profissão do marido, o casal residiu em diversos países e nessas andanças vivenciou experiências que repercutiram em seu íntimo de forma a criar uma percepção peculiar acerca do empreendedorismo e da inovação, temas avançados e pouco discutidos à época.

Diz a lenda que, quando morava no Japão, ela teve a oportunidade de assistir a uma palestra de Albert Einstein, em que o físico dizia que o futuro da humanidade seria moldado pela eletrônica. Foi aí que Luzia teve o insight de pavimentar o caminho para que esse campo do conhecimento chegasse até o Brasil por meio de sua cidade natal. 

Ela então se divorciou do marido, retornou ao Brasil no início da década de 40 do século passado e deu início a projetos voltados à promoção de novas oportunidades para Santa Rita. Ao final da década se dedicou à construção do que viria a ser a primeira escola técnica de eletrônica em toda a América Latina, um importante legado que até hoje faz parte do imaginário da cidade e da região. Muito em decorrência de ações como essa, o nome de Sinhá Moreira e sua atitude visionária até hoje ecoam no espírito inovador que permeia a cidade.

microtorrefação sul de minas

Negócios do café em Santa Rita

Santa Rita do Sapucaí é a terra natal da atual diretora-executiva da OIC, Vanusia Nogueira e tem uma cena cafeeira bastante movimentada. Há algumas cafeterias de diferentes propostas pela cidade, como a Nano Coffee Lab, a Grandpa Joel’s e a Madeira Café. Há ainda torrefações independentes como a Cafetelier, fundada por Anna Oppenheimer, que, segundo ela, tem como proposta ser um laboratório aberto e em constante transformação com objetivo de acompanhar a própria evolução do mercado de cafés no mundo. 

Segundo a torrefadora, “trabalhar com produtores e conectar pessoas é universalizar as oportunidades dentro da nossa esfera de ação. Apresentar ao paladar das pessoas um café de qualidade e democratizar o acesso aos cafés de qualidade é nossa missão”. Ela acrescenta ainda que a cidade tem um ambiente propício para o empreendedorismo cafeeiro. Nesse sentido, Anna diz: “Atuamos em toda a cadeia cafeeira na cidade e também faço parte do grupo Empreendedoras do Café. Tenho orgulho de tantas mulheres que, assim como Sinhá Moreira, pensam à frente do nosso tempo. Enxergo um cenário brilhante para quem quer trabalhar com nosso grão mágico, e com muito retorno a toda população”.

Igualmente parte do grupo de Empreendedoras do Café, Daniele Carvalho Mohallem é também CEO da Agrorigem, negociadora de cafés especiais que atua representando os cafés de sua própria família e de outros produtores locais no mercado interno e externo. A empresa também oferece workshops com o objetivo de difundir o conhecimento sobre cafés especiais em âmbito regional como forma de agregar maior visibilidade à cidade e à cadeia produtiva, criando a consciência no público local a respeito dos cafés em nível de excelência produzidos nos arredores do município.

Daniele é uma apaixonada por Santa Rita do Sapucaí e evidencia isso em suas palavras. “A cidade inspira tecnologia e inovação e oferece sempre um ótimo café. A qualidade de vida em Santa Rita é muito alta. É uma cidade que quer crescer e faz isso de uma maneira muito saudável, focando em educação de alto nível e geração de oportunidades.”

café especial

Lucas Moreira Capistrano de Alckmin, COO da M&A Coffees e diretor-presidente da CooperRita também acredita no potencial da cidade como agregadora de investimentos e inovações, mas também como uma das líderes na produção de cafés especiais no Brasil. “Temos todos trabalhado pelo fortalecimento da cadeia do café no nosso município e acredito que estamos no caminho certo: fazemos parte da Rota do Café do Ministério do Turismo, temos cafeterias de cafés especiais, tudo para entregar as melhores experiências possíveis para o público entusiasta do café”, explica.

Ele vai mais além ao enaltecer as características do terroir ao qual a cidade faz parte, Mantiqueira de Minas. “Aqui o solo e as condições climáticas são extremamente favoráveis à produção de cafés de alta qualidade com personalidade sensorial. E muitos cafés especiais de alta pontuação surgiram nas últimas colheitas graças aos esforços dos produtores em aprimorar cada vez mais os processos de pós-colheita.”

Hackeando experiências ao sabor de café

Falar de Santa Rita do Sapucaí nos dias de hoje é impossível sem citar o Hacktown, que teve sua primeira edição no ano de 2016 e hoje já ocupa lugar cativo entre os principais eventos focados em inovação, economia criativa, transformação digital e cultura de todo o mundo.

O evento é organizado por uma equipe de criativos, alguns nascidos em Santa Rita e outros que vieram por conta do projeto e se conectaram ao município com tanta intensidade que decidiram se mudar para a cidade, como Ralph Peticov.

Ele relembra com detalhes como o evento começou a ser concebido, ao mesmo tempo em que enaltece o potencial da cidade. “A ideia surgiu em Austin, em 2014 numa edição do SXSW. Foi lá que eu conheci o Carlos Henrique Villela, que é de Santa Rita. Ele me contou os planos que tinha de fazer um evento na cidade e conhecia outros profissionais que poderiam se juntar ao projeto, e acabariam se juntando mesmo: Marcos David e João Rubens Costa Fonseca.

Voltando a 2014, o Carlos Henrique me chamou então para fazer um TEDx em Santa Rita, que aconteceu de fato no ano seguinte. Foi aí que eu me dei conta que Santa Rita é uma cidade que não ocupa, ainda, o lugar que merece. Talvez por excesso de humildade, porque motivos para tanto existem aos montes. Que outra cidade desse porte no país tem condições de apontar como uma de suas principais ‘commodities’ a educação de excelência, da base ao ensino superior?”

Na última edição em formato presencial, realizada em 2019, o evento teve um público de 8.000 pessoas participantes dos debates e workshops, além de outras 25 mil pessoas nas atividades noturnas e abertas ao público. Além disso, possibilitou a injeção de algo entre 10 e 15 milhões de reais em quatro dias, por meio dos produtos e serviços adquiridos em estabelecimentos da cidade durante a realização do Hacktown. Nesse sentido, João Rubens e Ralph apontam que sua realização demanda muita reponsabilidade no sentido de que o evento seja gentil com a cidade, assim como com quem o prestigia.

João Rubens complementa o depoimento de Ralph e aproveita para discorrer sobre a relevância do café no contexto do evento: “O Hacktown se tornou o que ele é por causa dos insumos que a cidade mesmo já disponibilizava, por isso ele sempre vai levantar também a bandeira do café. Contamos com a presença de profissionais da área não só nas praças de alimentação, mas compartilhando conhecimento e informações em cursos e workshops”.

café mantiqueira de minas

Todos esses relatos e experiências demonstram que o legado de Sinhá Moreira segue muito vivo, promovendo o encontro da tradição com a inovação e estimulando debates muito sadios que devem render frutos bastante duradouros não apenas para o município, mas para toda a região. Assim, Santa Rita do Sapucaí vai escrevendo seu nome entre as cidades mais importantes para o café no Brasil.

Créditos: Acervo da Secretária Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo (destaque e fotos da cidade); Divulgação Cafetelier; Divulgação Agrorigem; Acervo Hacktown; Divulgação M&A Coffees.

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